A SAIA DA DISCÓRDIA!


No dia 22 de novembro (quinta-feira), a aluna Geyse Arruda, 20 anos, do curso de turismo de Uniban (Universidade Bandeirante) foi hostilizada por cerca de 700 alunos da faculdade. Aos gritos de “pu-taaa! pu-taaa! Pu-taaa!” a aluna só conseguiu sair do prédio escoltada pela polícia.


Não! Ela não foi acusa de nenhum crime hediondo, daqueles que chocam a opinião pública, e, vira e mexe abre a discussão sobre pena de morte. Também não é suspeita de lesar os cofres públicos desviando milhões de reais da população. Seu crime consistiu em ir à faculdade de mini-saia vermelha (www.folha.com.br/093026). Vendo pela TV as imagens impressionam, a faculdade parecia uma arena romana, pronta para aniquilar a “condenada” ou um daqueles filmes que retratam a Idade Média, onde beatas enfurecidas condenam bruxas à fogueira.

Na enquete acima questionei sobre a capacidade do jovem atual de transformar a realidade política de nossa sociedade, apesar da pequena participação percebi que boa parte das pessoas não acreditam mais no poder da juventude. Fatos como esse acabam reforçando a tese. Geralmente a imagem do jovem estava sempre associada às idéias de vanguarda, havia uma ligação forte entre juventude e contracultura (não é à toa que tivemos o movimento beat, os hippies, depois o punk, o hip-hop e aqui no Brasil o movimento estudantil foi de extrema importância na luta contra o regime militar), o jovem atual personificou os ideais do status quo tornando-se tão conservadores e alienados quanto seus pais.

O ato em si surpreende, pois um fato tão comum revela um lado sombrio da nossa sociedade, equipara-se às manifestações que resultam em linchamento. Para o sociólogo José de Souza Martins pessoas que se envolvem em linchamento geralmente possuem uma “referência social frágil”, surge dentro deste contexto a separação entre ser um “cidadão de bem” ou não. O grande problema é que o linchador sempre age em nome da sociedade, como um arauto da justiça pronto para proteger a sociedade.

Para a psicanalista Anna Veronica Mautner, Geyse adentrou o desejo reprimido dos jovens, que sentindo-se confrontados com a beleza da jovem moça decidiu atacá-la sem piedade.
Existe outro ponto a ser colocado dentro dessa questão, o próprio sucateamento do ensino universitário no Brasil. Se antes o espaço acadêmico era um espaço para reflexão, hoje tornou-se uma extensão do ensino médio, onde muitas vezes alunos sem preparo nenhum dão seqüência aos estudos, mesmo sem a bagagem cultural suficiente. Acredito que nem meus alunos da escola pública seriam capazes de promover uma barbárie como essa.

De qualquer forma esse é um assunto que dá muito para pensar. Afinal, que rumo estamos tomando?

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