FLORESTAN FERNANDES E A SOCIOLOGIA


          O professor Florestan Fernandes uniu, ao longo de sua carreira, o trabalho de pesquisador com a militância política. Traço marcante do seu trabalho era o afinco à pesquisa sociológica que em muito contribuiu para as ciências sociais no Brasil e serviu de base para toda uma geração de sociólogos que se formaram a partir da década de 60.
            No livro “Elementos de sociologia teórica”, lançada em 1974 pela Editora Nacional, há uma compilação de ensaios escritos em momentos diversos, no período em que ainda lecionava na Universidade de São Paulo.
            O primeiro ensaio data de 1959 e é intitulado com a questão “O que é sociologia?”. Porém, o caminho seguido por Florestan Fernandes não é tão fácil como parece.
            No início ele desconstrói a ideia simples que o estudo da sociologia limita-se ao estudo dos “fenômenos sociais” (p. 19) uma vez que esses fenômenos ligados a um determinado “comportamento social” não é exclusividade de seres humanos, assim ele cita como exemplos outros organismos que possuem o mesmo “comportamento social”, como as sociedades das formigas.
            A atividade sociológica se mostra como um campo complexo, onde o interesse reside nas formas de estudo das redes de “inter dependências” e de “interações sociais” (p.20).
            Florestan destaca o conceito de “ordem social” como ponto de partida para análise sociológica, dado que, o ambiente oferece condições estáveis de existência para “organismos que dependem da agregação ou/e da associação para sobreviver” (p.21).
            Essa ordem entre os organismos e o ambiente em que vivem possibilita a análise a partir de quatro níveis de organização da vida. A ordem biótica traduzida pelas formas mais simples de relação dos organismos como outros organismos da mesma espécie ou espécies diferentes, a exemplo dos vegetais. A ordem biossocial, que corresponde a uma categoria mais complexa onde se encontra a locomoção e interação dos organismos, onde o meio determina as ações desses organismos dentro de um contexto de sociabilidade condicionada, como exemplo da sociedade dos insetos. Na ordem psicossocial há uma combinação entre os fatores orgânicos e sociais, onde “os indivíduos aprendem a viver em grupo e a reagir apropriadamente à presença de outros organismos da mesma espécie ou de espécies diferentes”, a exemplo dos primatas subumanos (p. 21/22).
            Por fim, há a ordem sociocultural, na qual o exemplo é Homem, “único animal capaz de domesticar suas manifestações”, ou seja, sua organização não depende exclusivamente do meio, mas, ao contrário, é possível a interação juntamente com a transformação desse meio.
            Entende-se que a “ordem social” serve como base para organização de toda vida, porém, cabe ao sociólogo investigar como as condições coletivas exercem influência sobre os mecanismos de adaptação dos seres vivos (p. 29).
            Mais uma vez o professor alerta que “viver socialmente não é exclusividade do homem, mas o eu nos diferencia é a capacidade de construir uma sociabilidade estruturada a partir de uma comunicação simbólica, à transmissão de uma “herança cultural” e a convivência baseada em uma “ordem social” (p. 29/30).
            A partir disso cabe a sociologia estudar, nos diferentes níveis de organização da vida, a “interação social”.

BIBLIOGRAFIA:
FERNANDES, Florestan. O que é sociologia, in: Elementos da Sociologia teórica. Companhia Editora Nacional. São Paulo: 1970

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