AS TEORIAS DA MISCIGENAÇÃO NO BRASIL

O artigo Raça como negociação – sobre teorias raciais em finais do século XIX no Brasil, escrito por Lilia K. Mortiz Schwarz compõe é parte do livro “Brasil afro-brasileiro”, organizado por Maria Nazareth Soares Fonseca, com uma série de artigos elaborados para uma reflexão sobre os 500 anos do Brasil. O objetivo central do livro é analisar, a partir de diferentes pontos de vista, o lugar do negro na sociedade brasileira.

Se contrapondo ao “mito da democracia racial” (Gilberto Freyre) Lilia Moritz faz análises em torno dos estudos sobre a miscigenação em meados do século XIX.

O ponto de partida é a descoberta do novo mundo e a relação do europeu com outras civilizações. Partindo de uma visão etnocêntrica, de ambos os lados, começam a ser levantadas questões sobre a humanidade dos chamados povos “primitivos”. A pesquisadora faz referencias aos iluministas, Rousseau, Montaigne e Humboldt que reconheciam a humanidade desses povos. Porém, de lado oposto, várias personalidades da época colocavam os nativos das Américas em um status de infantilidade e retardatismo natural. Dentre os nomes estão o Conde de Buffon, o abade Corneille de Pawn a quem os homens do novo continente eram “bestas decaídas”, o zoólogo J. Baptiste Von Spix e o botânico Carl Friedrich P. Von Martius, os dois últimos realizaram uma obra em três volumes intitulada: “O estado do direito entre os autóctones do Brasil”, fruto de uma expedição realizada entre os anos 1817 a 1820 e incentivada pelo Rei da Baviera Maximiliano José I.


Outro ponto marcante para as análises das teorias raciais é a influência que o trabalho de Charles Darwin, escrito em 1859, “A origem das espécies”, irá exercer em todo o pensamento científico do século XIX, sobretudo na formação da chamada escola evolucionista social, base do pensamento antropológico que terá como representantes teóricos Morgan, Frazer e Tylor.

O pensamento determinista assumirá grande força, dividido em dois grupos, de um lado uma visão que baseava suas análises em fatores geográficos, e, uma segunda (e mais influente), as que emitiam conclusões deterministas e raciais.

É a partir desse ponto que Lilia Moritz irá abordar as diversas teorias raciais que procurarão explicar a questão da miscigenação do Brasil.

O fato central da análise da pesquisadora estará centrado nos acontecimentos políticos da época, a saber, a libertação dos escravos (1888) e a Proclamação da República, um ano depois. Porém, a exclusão do negro na participação ativa da sociedade não é levada em conta no debate das teorias da época, o critério político não era objeto central dessas discussões e sim o debate em torno do lado “negativo” da miscigenação.

Nomes como Gobineau, Louis Agassiz, Silvio Romero, Renato Kehl e H. Von Iheriny, formarão o quadro dos “homens de sciencia” que, a partir de instituições financiadas desde o Império, irão determinar o pensamento racista.

A conclusão ao qual o artigo chega é que todo o pensamento racista produzido pela “intelligentsia” de juristas, antropólogos, médicos, filósofos, ou seja, homens de expressão no meio intelectual serão determinantes na constituição da base racistas embrenhada no senso comum cotidiano. Essas teorias serão dissolvidas a partir de piadas, gags, uma cordialidade hipócrita e uma atitude velada de preconceito.

O artigo mostra de maneira completa e bem resumida como o debate político é anulado da sociedade em função das teorias sobre a miscigenação, e é a partir delas que os problemas sociais do Brasil serão explicados. Por fim, a antropóloga demonstra como a sociedade é brasileira em seu cotidiano sob o manto da “democracia racial”, que impede um debate amplo e sério acerca do tema.

BIBLIOGRAFIA:
SCHWARCZ, Lilia K. Moritz. Raça como negociação – sobre teorias raciais em finais do século XIX no Brasil. In: Brasil afro-brasileiro. Maria Nazareth Soares Fonseca, org. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

Comentários

  1. Boa noite, foi pedido a mim, para que lesse essa parte do livro: Raça como negociação, e essa síntese coube muito bem ao que li, reforçando mais o conteúdo! Muito bom!!!

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  2. Fico grato pelo elogio.

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  3. É preciso que se leia o livro de Gilberto Freyre, estude, veja vários artigos, pra depois pensar fazer reflexões e tirar suas conclusões.

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  4. Franz Boas foi orientador de Gilberto Freyre, ele era contrário as teorias racistas de cientistas citado no artigo, para Franz, cada cultura se apresenta como unidade integrada, resultado de um desenvolvimento histórico característico. Segundo Franz a dinâmica da cultura estaria representada na interação entre os indivíduos e sociedade e não em determinantes geográficos ou biológicos.Os diferentes estágios da civilização não eram frutos de relações meramente genéticas e sim da herança cultural e das influências do meio. Gilberto Freyre foi muito importante para essa época, dizendo que a miscigenação não é ruim, enquanto outros execravam a miscigenação. Ele vai valorizar a cultura do negro.Não foi perfeita, mas foi um começo.

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    1. Sim, você tem razão Carmem. Nesse breve texto, apresento um resumo do artigo da Lilia K. Mortiz Schwarz, mas, entendo a importância de Gilberto Freyre e toda sua obra.

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