EM PARIS COM WOODY ALLEN

      
        Desconfio quando as pessoas tratam dos filmes do Woody Allen com unanimidade, aliás, como diria Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra, por isso, desconfie sempre quando há uma concordância por parte da maioria.
         Não que Woody Allen seja popular ou que seus filmes estejam próximo de blockbusters, pelo contrário, o diretor norte americano ainda é  desconhecido de maioria (literalmente). Adoro quando cito-o e alguém diz que não vê graça em seus filmes, geralmente, costumo agradecer por ainda fazer parte de um publico seleto.
            Meia noite em Paris, filme de 2011, que gerou polêmica pela participação da primeira dama francesa Carla Bruni, mas longe dessas especulações secundárias, o filme representa a essência dos filmes de Woody Allen. Primeiro porque não o vejo como um diretor de filmes de comédia, mas sim como filmes que retratam, antes de qualquer coisa, os sentimentos de afetividade, entre eles, o amor. Por isso, seus filmes têm uma dose de comédia, pois o amor é um estado de leveza que nos leva a situações simples, porém, graciosas e, por que não, engraçadas. Neste o filme o amor se destaca, é só reparar nos diálogos que o protagonista tem com Hemingway.
           Em segundo lugar, porque Allen nos leva à Paris, mas não a Paris hollywoodiana ou a dos turistas canibais da nova classe média emergente. Somos transportada a uma Paris dos sonhos e dos sentidos, das grandes personalidades, dos verdadeiros sentimentos e de uma aventura poética.
             Em nenhum filme do Woody Allen veremos a luta de classes sendo retratada, o que é um acerto, pois a vida de uma elite é o pano de fundo de suas tramas, que está distante da vida da maioria do próprio público que assiste aos filmes de Allen. Por isso, o considero uma espécie de Gilberto Braga dos intelectuais, afinal, até mesmos os filósofos gostam de projetar aquilo que eles não tem no dia a dia, no caso, a vida de riqueza em sem preocupações mundanas referentes ao dinheiro, dívidas, trabalho etc.
               Por último, Meia noite em Paris nos mostra como somos aficionados pelo passado, como se ele fosse melhor (daí as frases: "no meu tempo..." ou "antes era tão bom..."). Não ele não é melhor, apenas nos livra da dureza da realidade do presente, daí a tristeza que muitas vezes nos assola ao pensar, demasiadamente, no passado. Este não pode ser negado, tem que ser vivido e enfrentado, isso não impede que o amor (verdadeiro) e a poesia façam parte desse presente. 
                É isso, ao assistir esse filme tive vontade de perambular pela cidade e encontrar, quem sabe, as minhas personalidades prediletas e com elas aprender um pouco sobre a vida. Enfim, este texto foi escrito um pouco depois da meia noite, em São Paulo e em algum lugar no tempo.

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