INVIÁVEL

      
     No dia 02 de março, a bióloga Juliana Dias, 33 anos, foi atropelada quando andava de bicicleta na avenida Paulista. Não demorou muito para o caso comover ativistas prol uso da bicicleta, tanto que no dia seguinte diversos manifestantes se reuniram numa manifestação no mesmo local do atropelamento para homenagear a ciclista e protestar por mais segurança àqueles que optam pela bicicleta como meio de transporte.
        O problema dessa cena, que vêm se repetindo com um frequência cada vez maior, é que - os ativistas de plantão, que sempre defendem suas causas de maneira apaixonada e utópica, mas, muitas vezes fora de um contexto real  - essa relação é perigosa, onde tragédias tal como afetou a bióloga Juliana Dias se repetirá cada vez mais.
       O fato é que a cidade de São Paulo tem atualmente cerca de 12 milhões de habitantes, a frota de veículos gira em torno de 7 milhões de veículos, ou seja, um carro a cada dois habitantes. As distâncias que pessoas percorrem todos os dias para ir ao trabalho são intermunicipais, ou seja, é comum uma pessoa sair do bairro do Itaim Paulista (onde mora) e ir para Santo Amaro (onde trabalha) todos os dias, num trajeto de cerca de duas horas. São Paulo é assim, uma cidade da velocidade, do individualismo e do caos organizado.
      Agora imaginem em meio a essa paisagem uma bicicleta circulando nas marginais, radiais e grandes avenidas como se estivesse numa pequena cidade do interior. Imaginou? Caso afirmativo, não é difícil deduzir que o resultado é desastroso.
     Não discordo de que a bicicleta tem inúmeras vantagens em relação aos ônibus, carros e motos, porém, é uma disputa perigosa, pois mudar o sistema de uma cidade como essa é inviável, aliás, São Paulo é uma cidade inviável do ponto de vista administrativo. Acreditar na utopia do convívio pacífico entre ônibus e bicicletas é uma ideia de quem não parou para pensar nos riscos dessa empreitada.
      E não adianta culpar a falta de consciência dos motoristas, a falta de transporte coletivo entre outras coisas (que são problemas reais, mas dignos de outras discussões), é muito fácil sair do Bairro nobre de Moema para o Ibirapuera e, querer com isso, mostrar que a bicicleta pode ser tornar um meio de transporte diário possível. Quero ver esses mesmo ativistas saírem do bairro pobre da Cidade Tiradentes e ir, todos os dias, trabalhar na riquíssima Vila Olímpia. Com certeza a ideia do carro como meio de transporte será extremamente sedutora, para não dizer a única alternativa de uma cidade que respira gasolina.
       

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