IMAGENS: REALIDADES OU ILUSÕES?

            As imagens tornaram-se linguagem universal, predominante em todo o mundo. É através delas que os sujeitos se recriam, transmitem ideias, sentimentos, interagem uns com os outros. Com o advento de todo o aparato tecnológico – que não cessa de se reinventar – tivemos um avanço nos meios de comunicação. Um exemplo disso são as chamadas redes sociais, onde os indivíduos conectam a uma realidade, na qual eles sabem ser desnaturalizada, e se recriam através de imagens, seja por um avatar ou pelos diversos links de imagens que são transmitidas a todo o momento pelas redes sociais e compartilhadas.
            Eles sabem que aquele mundo só é possível na Internet, por isso mesmo vivem tão intensamente. Dessa forma uma tragédia que abala a todos vai sendo reproduzida sem que se tenha um envolvimento maior, mas apenas a transmissão do fato.
            Feuerbach influenciou Karl Marx ao desenvolver a teoria da alienação, justamente quanto fazia uma crítica ao culto das imagens pelo cristianismo, para o primeiro, os sujeitos projetavam todas as qualidades positivas nas imagens – como ideal de beleza, bondade, justiça, perfeição etc. – ao mesmo passo que retiravam essas qualidades deles próprios (os sujeitos), surge o conceito de alienação, amplamente discutido por Karl Marx e todos aqueles a quem ele influenciou.
            Ao entregar às imagens uma possibilidade de nos transmitir uma realidade e nela acreditarmos, estamos nos alienando, pois, a crítica, só é possível pelo pensamento lógico, pela reflexão e pelo diálogo. Elementos cada vez mais ausentes nos dias atuais, pois o que temas é a reprodução incessante das imagens.
            No primeiro fragmento de Susan Sontag pode-se fazer uma análise interessante, pois o valor dado a uma pintura é menor do que a uma fotografia, pois acredita-se que esta capta a realidade em seu exato momento de acontecimento, por outro lado, acredita-se que a pintura é a transposição da visão de um pintor para um quadro, dessa forma, o quadro de Shakespeare demonstra a visão de um pintor sobre o escritor. Não existe a noção de que mesmo a fotografia retrata um momento de acordo com quem  está capturando a imagem, nesse sentido podemos nos perguntar: Será que todos que tiram suas fotos nas redes sociais com  pose de felicidade, realmente estão ou são felizes? A imagem fotográfica é tão manipulável quanto a pintura em um quadro, a diferença está nos recursos utilizados.
            Já no segundo fragmento Boris Kossov nos mostra o quanto é importante o uso das imagens como linguagem, porém, os cuidados ao analisar as imagens são maiores que em outros recursos de comunicação.
            O escritor português José Saramago nos deixa uma mensagem em seu livro Ensaio sob a cegueira, na qual ele coloca “se do olhar, veja, mas se pode ver, repara”. Na fotografia esse é o ponto central, reparar o que a fotografia tem a nos passar, mas, principalmente, saber a que ela se refere.
             Nesse sentido um exercício é possível durante as aulas de Sociologia, com alunos do ensino médio.



             As quatro imagens acima dizem respeito ao mesmo evento, a saber, as manifestações ocorridas da Universidade de São Paulo, em virtude da prisão de três jovens, que estavam na dependência do campus portando maconha. A questão - que gerou inúmeros protestos e a tomada da reitoria pelos alunos da universidade - foi a presença da polícia militar na universidade, algo que parcela da comunidade acadêmica considera uma afronta à liberdade dentro de um ambiente universitário.
            Porém, a discussão tomou vários vieses. De um lado os que condenam a presença da PM, do outro, aqueles que são a favor. No sentido horário, na primeira imagem, temos um estudante segurando um rolo de papel, simulando um cigarro de maconha, imagem que foi muito divulgada e apropriada por aqueles que se dizem a favor da PM. Na segunda imagem, alunos organizados em uma manifestação contra a presença da PM, porém, na terceira imagem, vemos a imagem de inúmeros polícias, fardados com capacetes e coletes a prova de bala. Nas duas imagens temos artifícios suficientes para nos posicionar contra a PM e a favor dos manifestantes, uma vez que as imagens passam a sensação de paz e organização por parte dos alunos, enquanto do lado dos PM’s, há uma sensação de violência, mesmo que ela não esteja manifestada na foto, mas simplesmente pelas imagens, afinal, os estudantes estão em sua maioria de bermudão e camisetas, enquanto os policiais estão como que prontos para uma guerra.
            Por final, temos um jovem, visivelmente a favor à presença da PM, com bem indica o cartaz. Porém, podemos perceber que ele se distingue dos demais, pois suas vestimentas são um terno e gravata, roupas comumente associada a pessoas pertencentes às classes superiores. Nesse sentido, aqueles que se identificam com o perfil do rapaz pode encontrar na imagem uma satisfação, de ver a figura de um alunos sério, segurando um cartaz que nos dizeres defende a organização instituída, nesse caso pela PM, a desordem promovida por estudantes que só querem fazer uso de drogas ilícitas.
            Porém, a última imagem, pode também satisfazer o coro dos estudantes contrários à PM, demonstrando que o jovem em questão não passa de um “burguês” pertencente à elite e que está defendendo aquilo que é e sempre foi interesse da elite, manter o povo longe da universidade.
            Como é possível ver uma imagem pode não apenas falar por mil palavras, mas como também pode nos cegar de todo e qualquer aproximação daquilo que chamamos de realidade.

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