A MOÇA DO CAIXA

       
       Todo esse momento de paz e prosperidade que é exaustivamente trabalhoso devido as festas natalinas, esconde alguns problemas que merecem atenção.
       Um deles é a concorrência sem limites, proveniente da necessidade de demonstrar superioridade frente aos demais. Nesse caso, a compra de mercadorias é o atestado de prosperidade e, com isso, a garantia de que você é um cidadão, um ser humano digno de respeito e admiração.
          O sucesso deve ser demonstrado a partir de objetos que possuem relevância no atual momento. Aparelhos eletrônicos, carros, roupas, viagens, passeios à lugares (pseudo) exóticos e fórmulas mirabolantes para transformar o corpo, são a prova de que você venceu e que por isso tem uma vida prospera.
      O problema é que isso gera situações estressantes, pois nem sempre a renda acompanha essas exigências. As festas de fim de ano no trabalho ou em casa, a vizinhança alvoroçada mostrando as posses adquiridas, nos shoppings ou supermercados, todos parecem reparar em você e nos signos que irão demonstrar a suas conquistas.
         Não é a toa que, na época mais feliz do ano o que mais se vê é gente nervosa, pois todos querem cobrar essa felicidade aparente, todos querem ver o quanto você conseguiu ser feliz, pois é ela o termômetro para a felicidade alheia. Surge então o temor constante de não conseguir responder à essas expectativas.
           É fácil reparar nisso em locais de grande concentração, onde pessoas são obrigadas a estar, como na fila do supermercado. Não é raro encontrarmos, nas filas dos grandes supermercados, pessoas com alto nível de estresse, que acabam descontando tudo na moça do caixa. Pois é ela, nessa linha de concorrência selvagem, o lado mais fraco e, por isso mesmo, a vítima preferida das pessoas imbuídas do espírito natalino.
           

P.S.: A escrever esse texto me lembrei de um filme chamado "A garota da vitrine" (Shopgirl), de 2005. Não tem muito haver com o que escrevi, mas é um filme que tem como protagonista uma atendente de loja, invisível, como milhares de atendentes e que conhece um homem mais velho (Steve Martin) e aí...blá, blá, blá. Simples, delicado e profundo.

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