ZUMBIS, ROLÊS E A GERAL ASSUSTADA

     Cena 1: Numa pequena cidade dos EUA, um grupo de zumbis parte em ataque à população, rapidamente, na tentativa de se salvar, um grupo se refugia em um shopping center. Começa então a luta pela sobrevivência. Do lado de dentro, um grupo de seres humanos "sadios" (ou nem tanto assim, como será mostrado ao longo do filme) e, do lado de fora, zumbis aterrorizantes tentar cercam o shopping center, sentido presença das presas fáceis.

   Cena 2: Zumbis tomam conta do planeta. As poucas pessoas que se salvam, criem uma espécie de condomínio fechado, de alta segurança, onde conseguem manter-se afastadas do perigo. Enquanto isso, o caos corre a solta pelas ruas da cidade.        

     A primeira cena descrita é do filme "Madrugada dos mortos" (2004), do diretor Zack Snyder, que no ano de seu lançamento rendeu boas críticas, parte delas direcionadas ao cenário que serviu de abrigo ao personagens: um shopping center. Em determinado trecho do filme, o humor ácido se instala ao mostrar que a opção de abrigo foi a mais acertada, mostrados os personagens se deleitando com todas as tentações oferecidas num centro de compras fechado e com passe livre. A cena seguinte é parte de um filme dirigido por um mestre do terror, a saber, George A. Romero, o filme: "Terra dos mortos" (2005). Novamente a alegoria fácil do apartheid social, travestido de um sarcasmo, afinal, quem são na realidades os zumbis senão todos aqueles que não fazem parte de um dado círculo social.
   
As cenas não diferem muito dos apartheids sociais ao qual estamos acostumados, em São Paulo por exemplo, eles estão em todos cantos: nos bairros; shopping centers; locais de lazer; cinemas; eventos culturais; praias etc.
      Porém, não nos esqueçamos que a ideologia propagada pelos Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE) - conceito formulado por Louis Althusser - leva o valores das instituições dominantes à toda a população de forma indiscriminada. Assim, todos indivíduos introjetam valores que são determinados e determinados numa dada estrutura social, transformando-se em sujeitos da ação.
   Os valores de uma época é determinado por essas ideologias: comportamentos; vestimentas; objetos das moda; ideias a serem perseguidos etc. Mas o que o sistema esquece (e não é proposital) de avisar é que: 
NÃO HÁ LUGAR PARA TODOS! 
     A questão, então, passa a ser: O QUE FAZER???
    Pelos visto, os jovens da periferia de Itaquera (zona leste de São Paulo) descobriram a solução. Na ausência de equipamentos de lazer, de políticas culturais, de infraestrutura, de acesso e de orientação das mesmas instituições ideológicas dominantes, a solução é criar as oportunidades. Nesse caso: os ROLEZINHOS.
      A primeira "contravenção" do grupo foi a de abrasileirar o termo. De flash mob, termo estrangeiro pomposo para mobilização instantânea, foi para os "rolezinhos", derivado de rolê, que significa "dar uma volta", "passeio sem compromisso", "caminhar para distrair".
      Não demorou, virou moda no Facebook (tal qual os flash mobs). Tudo certo. Se não fosse um detalhe: na festa do consumo, o convite é para todos, mas a entrada é restrita.
    Entra em cena o Aparelho (Repressivo) Ideológico do Estado - aquele mesmo de meados de junho de 2013 - e mete a borracha em todos. Tentando garantir a ordem e a segurança, mandando os intrusos para o lugar da onde nunca deveriam ter saído.
     A provas não poderiam ser mais claras, na cena a seguir, a polícia desce o cassetete em jovens que estavam descendo a escada rolante, sem que houvesse um motivo:

    A colunista do jornal Folha de São Paulo, Vanessa Barbara ouviu da PM: "Vou arrebentar você" 
    Nas redes sociais, a geral não se conforma e dá-lhe adjetivos: arruaceiros, bandidos, marginais (isso sim, pois, estão à margem), vagabundos, enfim, toda a sorte de nomes.
      Enfim, a plebe quer a parte que lhe cabe do paraíso que é divulgado aos quatro cantos, ela quer, assim como todos nós, um lugar ao sol (isso por os "outros" somos "nós"). Os "rolezinhos" tratam-se de uma continuação dos eventos ocorridos em 2013. 
      Afinal, não estavam criticando que o "Gigante" voltou a dormir????
       2014 será um ano de tensões e a "geral" vai pirar!

    Nenhuma análise pseudo sociológica chega aos pés desses samba de Wilson da Neves, que diz assim:
    "No dia em que o morro descer e não for carnaval, ninguém vai ficar para assistir o desfile final". 
        É a sabedoria popular antevendo os acontecimentos.   

Alexandre Ramos
Sociólogo, professor e músico = Marginal por condição

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