NÓS, OS BÁRBAROS

"[ ... ] cada qual denomina de bárbaro o costume que não pratica na própria terra"
                                                         Montaigne, filósofo do século XVI

Causou polêmica o vídeo (do dia 18 de agosto) da decapitação do jornalista norte americano James Foley, de 40 anos. Os autores da atrocidade, faziam parte de um grupo extremista islâmico denominado ISIS.

Confesso que não sei o que isso significa, tampouco assisti ao vídeo, que se tornou uma atração para o público das redes sociais.

Essa atração pela violência, pelo grotesco e a falta de humanidade que levaram mulheres, homens, crianças, idosos e tudo o mais acessar e se "deliciar" com atração revela um lado bárbaro, tão bárbaro quanto o desejo do jihadista que decapitou o jornalista.

Não ouvi uma palavra sobre a situação de conflito na região onde o fato ocorreu, aliás, isso o que menos importou. Nem, diálogos comoventes que buscavam entender a dor e sofrimento do ser que fora morto. Só o que ouvi foi: "Você viu, mano...!?" e por aí vai.

O máximo que escutei foram alusões à violência desmedida dos extremistas islâmicos, a falta de compreensão do por quê de tudo isso, como se essa realidade fosse distante.

Por ironia, no dia 24 de agosto, em um presídio do Paraná (Brasil), em meio a uma rebelião de presos, quatro detentos foram mortos, sendo dois deles decapitados.


Por que não gerou polêmica? Por que não foi comentando pelas pessoas? Por que não gerou desconforto?

Simples, pois não teve vídeo no YouTube, com todo o espetáculo necessário.

Então, bárbaros brasileiros, aprendam, da próxima vez, posta na rede. Quem sabe não ganhe mais likes que eles, os bárbaros jihadistas. 



DICAS

Essa é uma das melhores música da banda Legião Urbana, do segundo álbum do grupo de Brasília.
Com uma base punk, o refrão provoca: "... é tão emocionante um acidente de verdade, estão todos satisfeitos com o sucesso do desastre" 


Já o poema de Bertold Brecht é um alerta, que costumo repetir todo início de ano, com minhas turmas de primeiro ano:

"Nós vos pedimos com insistência:
Nunca digam - Isso é natural!
Diante dos acontecimentos de cada dia,
Numa época em que corre o sangue
Em que o arbitrário tem força de lei,
Em que a humanidade se desumaniza
Não digam nunca: Isso é natural
A fim de que nada passe por imutável."


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