DAS NOSSAS FRONTEIRAS


John Doone,  poeta inglês do século XVII, colocava a ideia de que nenhum homem é uma ilha, completo em si mesmo. Seríamos parte de um todo. Sábias palavras, principalmente se pensarmos que o que nos torna humano é justamente o contato com o outro, em linhas gerais, a intricada rede de relações. Nesse sentido, acerta o poeta.
Uma outra forma de pensar essas relações está ligada a uma ideia que desenvolvi. A de que somos sim uma ilha e que possuímos nossas fronteiras, muitas delas inatingíveis, mesmo que, no sentido espacial, estejamos próximos.
Levamos em consideração que, ao ocupar o mesmo território, o mesmo espaço, ao criarmos uma proximidade, estaremos ligados pelos mesmos sentidos, sentimentos, pelas mesmas experiências e, adquirimos a mesma visão de mundo. Um exemplo claro para essa ideia seria pensarmos numa família. Para ilustração, peguemos uma família tradicional pela determinação social: pai, mãe, irmão mais velho, irmã do meio e um irmão caçula.
Imaginamos que todos esses personagens irão desenvolver, ao longo do tempo, experiências que os aproxima, muito mais do que os afasta. Ledo engano. A experiência de cada um - mesmo possuindo diversos, inúmeros pontos de encontros -, pode revelar uma sensação diferente para cada membro, a ponto de afastá-los muito mais do que aproximá-los. Nesse sentido, fronteiras são criadas, onde nunca sei quem é o Outro e o que ele sente realmente. Chego a esse indivíduo até um determinado limite, até uma fronteira, onde, depois, não é mais possível prosseguir. O Outro torna-se inatingível.
Assim se processa diariamente, constantemente. Como numa sala de aula, estão todos juntos, dividem o mesmo espaços, mas não vivem o mesmo universo. E isso se atenua a partir do momento que as experiências externas se mostram mais intensas. Outro exemplo é a garota que passa a frequentar ambientes que seus pares não costumam frequentar, que passa a escutar um som diferente dos demais, que assiste filmes ou lê livros que não condizem com sua idade. Essa garota amplia a fronteira que a separa das demais, mesmo que ela seja amigas destas. Subjetivamente há uma fronteira de separação, invisível, inatingível.
Não é incomum tentarmos invadir essas fronteiras. Mas, como disse um amigo meu uma vez, há fronteiras que não devem ser ultrapassadas. Pois, incorremos os riscos de nos perdemos no imenso mar de subjetividade do Outro, que não conhecíamos até então e que dificilmente iremos conhecer de fato. 
Essa fronteira permite que o sujeito seja em si único e incompreensível, o que o transforma, contrariando John Doone, uma ilha. Porém, ele mesmo (o sujeito) é habitante de sua própria ilha, o que o torna distante dos demais, solitário e constantemente irrealizável, pois, o Outro que o completa está além da fronteira.  

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