A POLÍTICA COMO ESPETÁCULO

   E comum dizer que todo brasileiro é um pouco técnico de futebol. Arrisco-me em dizer que, agora, todo brasileiro é um pouco cientista político. Parece que a política assumiu o lugar do futebol, ou melhor, ela própria se confunde muitas vezes com uma partida de futebol, onde a discussão muitas vezes caminha para um típico FLAxFLU.

Marilyn Monroe retratada uma obra de Andy Warhol

   A questão colocada é que, com o advento dos sites de rede social da internet, a participação das pessoas na discussões sobre política assumiu novas proporções. Hoje, é possível discutir tudo que se passa na política possibilitado, primeiramente, pelo amadurecimento da nossa democracia e porque a política vem tomando as principais manchetes nos jornais, na televisão e no rádio (o que podemos chamar de mídia tradicional).

   Boa parte do que se discute na rede é o que veiculado antes na mídia tradicional (isso significa o quanto elas são influentes ainda hoje). Quando essas informações chegam às pessoas, cada grupo ou setor da sociedade replica essas informações, imprimindo seus sentimentos em relação ao assunto/tema.

   O sociólogo espanhol Manuel Castells, em entrevista ao jornal da USP, afirma que a política sempre foi midiática, não é por acaso que o problema da corrupção, por exemplo, reside muito menos nos usos individuais que se faz do dinheiro desviado, do que os usos que se faz desse dinheiro para sustentação de partidos e campanhas.


Campanha fictícia de um personagem dos games

  A política tornou-se assunto da moda e a sua personalização, ou seja, a necessidade de escolher nomes e personagens específicos, para dessa forma virarem vilões ou heróis, mostra-se uma necessidade das massas que ainda não passaram por uma educação política de fato.


PERSONALIZAÇÃO DA POLÍTICA

   Durante todo o debate nas redes sociais é possível perceber o maniqueísmo presente nos discursos, o reino da política passa a ser habitado por pessoas do bem e do mal. A concentração do debate em figuras e personagens específicos tem a dupla função de facilitar o entendimento dessa política e ao mesmo tempo, afastar as pessoas do mais importante, os partidos políticos.


Imagem do filme O show de Truman

  Se bem que não há diferenças dos programas apresentados pelos partidos, muito menos o embate se dá no âmbito ideológico mas, no campo dos interesses pelo poder.

   Sendo assim é comum ler e ouvir discursos proferidos contra essa ou aquela pessoa, como se todo o mal concentrasse nas mãos de um único sujeito. Todo o cenário pouco ou nenhum interesse desperta. 

E O QUE REALMENTE INTERESSA?

   Com essa espetacularização da política e a verdadeira cacofonia desconcertada, pouco se especula em torno dos assuntos principais, como:

a) Como ficam as empresas privadas que financiam campanhas e políticos, como forma de atender aos seus interesses?

b) Qual seria a melhor maneira de tornar a ação dos partidos mais transparente, sobretudo no controle do dinheiro das campanhas políticas?

c) Por que pouco se discute sobre um projeto de país que independa de projetos partidários de poder, dessa forma, estabelecendo critérios para áreas essenciais como educação, saúde e segurança?

NÃO ESTAMOS NO INFERNO

   Ao contrário do que se imagina o Brasil não é nem o país mais corrupto, nem o país menos corrupto. Isso nos coloca na análise do copo meio cheio, meio vazio. 

Mapa da corrupção no mundo. Dados da ONG Tranparency International.
Dos 175 países pesquisados, o Brasil está em 69º, os dados completos podem ser conferidos no link
Corruption Perceptions Index

  Se por um lado discute-se sobre corrupção é porque os casos estão sendo denunciados e, na medida do possível, sendo combatidos a todo o custo. Mesmo que os julgamentos, as penas e a justiça feita estejam longe do ideal.

  Por outro lado, há um lado sombrio nisso. O de que a corrupção não é de competência apenas da política maior (com P maiúsculo), mas sim de todos os âmbitos da sociedade. Afinal, de contas, de onde saem os políticos de nossa sociedade? Já parou para pensar?

E as pequenas corrupções, não interessam?

  E como reagimos ao falar das pequenas corrupções diárias, cometidas por nós mesmos no dia a dia?


     É muito clichê dizer que tudo isso passa pela educação e se passa pela educação, passa pela escola. Pois, depois do espetáculo, devemos nos educar para discutir as questões com conteúdo relevante e realmente transformador (aliás, educação é um termo pouco ou nada abordado nessas manifestações).
  
    Palavras de ordem, frases feitas, gritos de guerras, hashtags, selfies, debates intermináveis etc. Tudo isso faz parte da espetacularização da política, o que acaba beneficiando grupos que realmente sabem como, porque e pra quem a máquina funciona e ela é bem complexa para aprender seu funcionamento com posts no Facebook.

        Num excelente texto do historiador Jaime Pinski, é possível entender que, transformar nossa democracia aos moldes da Grécia antiga, - onde um grupo específico se encontrava na Ágora com objetivo de tomar decisões políticas - não funciona em uma sociedade complexa como a nossa. É preciso que as pessoas saiam das ruas e comecem a participar mais das instituições, reforçando-as  e, principalmente, se educar de fato para uma política que beneficie de fato a sociedade como um todo.

       


LIVROS PARA ENTENDER A POLÍTICA

   Não adianta, entra 50 tons de cinza, Harry Potter, Paulo Coelho, Augusto Cury, mas, se você quiser entender de Política, esses são os livros referenciais. Qualquer coisa que se discuta sobre a política 
parte das ideias desses filósofos contidas em suas obras. Conhecer minimamente, talvez, seja um primeiro passo para elevar a discussão sobre a situação atual da nossa política.
   Por isso, não coloquei links para acesso, essas obras são de fácil acesso e super baratas.   

- O príncipe de Maquiavel
- O contrato social de Rosseau
- Dois tratados sobre o governo de John Locke
- O leviatã de Thomas Hobbes
- O espírito da leis de Montesquieu 
- O manifesto do Partido Comunista de Karl Marx


DICAS DE FILMES

   Nesse link é possível ler sobre 50 filmes que abordam a questão política e temáticas sociais.
    Acesse, leia e assista:


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