Certa
vez, numa atribuição de aulas - na própria escola onde hoje sou professor
efetivo – um colega recém-formado em Ciências Sociais olhou e disse: “Olha
só para esse pátio, cara, os professores formam uma classe deprimente”. Relutei
um pouco em aceitar a generalização, afinal, éramos parte daquela “classe
deprimente”. Enfim, essa imagem não saiu nunca da minha mente.
Já
se passaram três semanas, ainda continuo de greve e vou elencar aqui algumas
lições que aprendi com essa greve:
1)
Faço parte de uma classe invisível. Durante
quase toda a greve fomos rejeitados pelo governador (esse que tem problema em
enxergar as coisas) e pela mídia. Fiquei numa situação difícil ao perceber que,
na primeira semana de greve dos professores, ninguém estava comentando nada. A
situação ficou complicada até em casa, pois sempre que chegava de uma
assembleia perguntava para minha esposa se alguma coisa tinha sido comentada
pelos jornais. Para minha surpresa, nada.
Antes
disso, eu achava que o conceito de invisibilidade social estava ligado a grupos
considerados de menor importância: moradores em situação de rua; menores
abandonados; o pessoal da limpeza; garis; distribuidores de panfletos etc.
Descobri que professores são invisíveis socialmente, assim como a própria área
da Educação é invisível aos olhos da sociedade.
2)
Garis têm mais consciência de classe que
professores. Pouco ouvi falar da greve e, acredito que muitos dos meus colegas
também não ouviram nada. Isso porque os professores não possuem a chamada “consciência
de classe”. É quase um lumpemproletariado da educação, unido mais pelas suas
diferenças, incapazes de se reconhecerem por iguais. Não era difícil escutar alguns
colegas perguntando: “E a greve?”. Nesse momento eu me questionava, será que
estava falando da greve dos garis ou dos caminhoneiros?
3)
A Educação não move e nem comove a sociedade.
Sempre digo que esse discurso sobre a Educação é vazio, ninguém liga a mínima
para a escola e o que acontece nela. É um problema cultural. O discurso econômico
é o que comove de fato. É uma pena, pois se não valorizamos as Educação, nossos
antigos problemas, sempre estarão presentes, como coisas naturais, sem solução.
4)
Fazer é greve é algo difícil, doloroso. Não envolve só as questões ligadas ao trabalho, imediatas. Envolve questões existenciais,
da própria condição do sujeito no todo. No caso de professores, ter quer sair
às ruas para exigir respeito e melhores condições, já atesta uma crise plena,
algo que não deveria acontecer.
5) Meu colega estava
certo. Está na hora de mudar.
De fato colega, creio poder compartilhar com você im pouco dessa forma de ver. Eu mesmo me vejo assim quando procuro me comparar com os garis, motoristas, cobradores e outras categorias de trabalhadores quando colocados todos eles no plano social, de simplesmente executores de tarefas isonomicamente (iguais) importantes, aliás, por que seriam diferentes em graus de importância?
ResponderExcluirDe fato colega, creio poder compartilhar com você im pouco dessa forma de ver. Eu mesmo me vejo assim quando procuro me comparar com os garis, motoristas, cobradores e outras categorias de trabalhadores quando colocados todos eles no plano social, de simplesmente executores de tarefas isonomicamente (iguais) importantes, aliás, por que seriam diferentes em graus de importância?
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