Nunca sei ao certo
se sou um menino de dúvidas
ou um homem de fé
certezas o vento leva
só dúvidas ficam de pé
(Leminski)
Nunca fui um sujeito de muitas
convicções. Sempre invejei aqueles que têm certeza plena de suas ideias e as
defende, com unhas e dentes e todos os argumentos possíveis.
Por exemplo, conheço vários amigos que
são ateus, porém, eu nunca tive a coragem explicita de me reconhecer ateu,
apesar de duvidar da existência de Deus. Mas, por outro lado, tenho amigos
religiosos, que possuem suas crenças com total fervor. Penso que é uma dúvida
cruel, pois se me autodeclarar ateu e descobrir que há um ou muitos deuses.
Diria com certeza: “Fudeu”.
Não para por aí.
Na música a mesma coisa. Sempre fui do
rock, como costumam dizer. Amo hardcore, punk, death metal e sons
escatológicos, além dos clássicos, lógico. Porém, não há sujeito mais chato que
o roqueiro religioso, aquele que fala do rock como se fosse algo de uma
divindade intocável. Roqueiros assim são boçais, para não dizer, pessoas
completamente cansativas. Por isso, escuto outros estilos e decidi montar uma
banda de brega (Os Waldicks). Aliás, a ideia dos Waldicks surgiu num show do
Amado Batista (para desespero da nação roqueira) e percebi que havia muito da
atitude punk naquele show, bem mais que nos roqueiros boçais que conheço.
Enfim, a lista é infindável. Não consigo
seguir um discurso com convicção, sem desconfiar dele e de quem o profere. O
mesmo ocorre com as ideologias e as teorias sociológicas do Facebook.
Sujeitos convictos são iguais aos
roqueiros boçais.
Às vezes, quando alguém começa falar
com uma extrema seriedade e uma convicção inabalável, costumo admirar, mas, no
geral, sinto sono. E é nesse momento que toco em minha mente algo de jazz, tipo
Coltrane ou Charles Mingus.
Pessoas convictas me dão sono,
simplesmente porque não escutam o que você tem a dizer. Então, não há diálogo.
Assim segue com vegans; todo o pessoal
natureba e de cultura alternativa; os descolados; as pessoas bondosas que
querem o bem da humanidade; os politicamente corretos e os incorretos; os
cidadãos de bem (desses que encontramos em reuniões de família); os sociólogos
e filósofos (gente chata pra caramba); as feministas (dessas eu morro de medo,
apesar de conhecer várias); enfim, assim segue.
Não sei ao certo se é ruim isso de
fato. Por vezes, me considero medíocre, mas sei que não sou um sujeito medíocre
(desses, conheço vários e também me dão sono).
Em
tempos de redes sociais, onde a democratização do discurso permite que todos expressem suas opiniões, escutar as pessoas
está cada vez mais cansativo. A cada momento ativo na vitrola do meu cérebro
aquele disco do John Coltrane e deixo tocar a bela Stardust, para desespero na
nação roqueira.
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