TODOS SOMOS ED MOTTA

   Na quinta-feira, dia 09, o músico brasileiro Ed Motta causou revolta geral na rede, pois desabafou em seu perfil no Facebook ao comentar sobre a turnê que realizará na Europa, a partir de Abril, numa série de 16 shows.

Nosso conterrâneo Ed Motta
   Ele comentou, de maneira bem áspera, que não incluiria na turnê musicas em português e que não comunicaria me português com o público. Vociferou contra pessoas que ele considera como "simplórias" e que não conhece de fato o seu trabalho. Ressaltou que a série de shows seria para um público mais "culto", que fala em inglês e que, a ele e aos organizadores, não interessava fãs de música popular (tipo sertanejo, axé ou pagode), que vai às apresentações com camisas de time de futebol, bebendo cerveja barata e pedindo a todo instante para que ele fale em português.

    Ed Motta ainda recomenda:

  “Não gaste seu dinheiro, e nem a paciência alheia atrapalhando um trabalho que é realizado com seriedade cirúrgica, esse não é um show para matar a saudade do Brasil. [...] “Esse é um show internacional”

   Simplesmente adorei toda essa polêmica causada pelo Ed Motta, mesmo que tenha sido um surto momentâneo (tanto que ele se desculpou depois). Ele disse o que queria ter dito no momento, mandou seu recado, se revelou.

   Li muitas reportagens a respeito e todas citavam seu tio Tim Maia, como símbolo de humildade e grande músico. Discordo.



    Tim Maia era igualmente egocêntrico, agia em função do próprio umbigo e muito dos seus excessos estava ligada a sua incapacidade de se satisfazer e satisfazer seu próprio eu. Ed Motta não é diferente, aliás, somos todos iguais nesse sentido.

    Quem nunca quis dizer poucas e boas sobre uma situação, mas teve que se segurar, manter a postura?

   Na verdade, todos nós queremos platéia e a "nossa platéia".

   Intelectuais, não querem discutir a Dialética do Esclarecimento com seu cunhado que só sabe falar de futebol; artistas, não querem interpretar Beckett nos teatros para gente que vê nas novelas o máximo da alta cultura; donas de casa, não preparam Ratatouille para ser devorado sem o mínimo paladar, como se fosse coxinha de frango engordurada; o pessoal da esquerda, sonha com uma sociedade que eles mesmos projetam como a ideal, para pessoas que falem a mesma língua que eles; os conservadores da nossa elite, não querem um Brasil melhor para todos, mas somente para que eles possam manter o conforto de suas vidas.

    O ser humano é obscuro por natureza e o mal não consiste em liberar esse lado obscuro, mas em esconde-lo por meio das máscaras sociais que mantemos. São essas pessoas que devemos temer diariamente, por não revelar aquilo que realmente querem dizer ou ser, mas que involuntariamente corroboram para que outras barbaridades aconteçam.

    Essas máscaras sociais funcionam muito bem para manter estruturas de instituições como a família, por exemplo, onde o jogo das representações se faz necessário para manter sólida as tradições e imposições da sociedade. A verdade de cada um fica, o geral, escondida. Revela-se na obscuridade de atos individuais, como nos contos de Nelson Rodrigues. Traições, desejos, desabafos, repulsas, ódio, medo, infelicidade não conformidade. Tudo isso deve fica escondido em nosso âmago, sem que ninguém saiba. E quando se revela, é escândalo na certa.


Filme Bonitinha mas ordinária (1981), inspirado na obra de Nelson Rodrigues
   Ed Motta "soltou a franga" e revelou um lado que é dele, está nele, mesmo que conviva como outros lados, mais humildes, gentis e populares. E todos nós somos em certa medida assim, temos nossas vontades de glamour, de viver nosso universo, de ser diferente dos "outros", de não se misturar. Apenas, não confessamos.



   Vamos perdoar o rapaz, deixá-lo realizar o sonho dele de tocar para uma plateia culta e, depois, sem mágoas e ressentimentos recebe-lo de braços abertos. Quem sabe ele não mata a nossa vontade e entoa: "Manueeel, foi pro céu!!! Manueeeeeeel, foi pro céu..."       



TURNÊ DO ED MOTA NA EUROPA 2015:

Abril
22 La Boite à Musique, Metz (França)
23 La Belle Electrique, Grenoble (França)
24 Jazzahead, Bremen (Alemanha)
25 Hannover Jazz-Club, Hannover (Alemanha)
26 A-Trane, Berlin (Alemanha)
Maio
03 Bray Jazz Festival, Dublin (Irlanda)
04, Barbican Centre, London (Reino Unido)
22 Jambooree, Barcelona (Espanha)
23 Jambouree, Barcelona (Espanha)
28 Domicil, Dortmund (Alemanha)
29 Elbjazz Festivall, Hamburg (Alemanha)
30 Teatro Forma, Bari (Itália)
31 Teatro Communale, Busseto (Itália)
Julho
04 Jazzfest Wien, Vienna (Áustria)
12 North Sea Jazz Festival Club (solo), Rotterdam (Holanda)
18 Pori Jazz Festival, Pori (Finlândia)
DICAS PARA TREINAR O INGLÊS:

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