NEVERLAND DIGITAL


Sou professor do Ensino Médio há uma década e, como um profissional que gosta do que faz, me envolvo por completo na rotina escolar e de meus alunos.

Fato é que os acompanho de forma espontânea e amigável em quase todas as redes sociais. Primeiramente, por simples curiosidade, pela necessidade de um usuário comum e pelas "vantagens" do estar sempre conectado. Só depois transformou-se em objeto de estudo e interesse acadêmico.

Algo interessante nas diversas redes sociais, onde o uso de imagens e fotos é uma constante, - tal como o Instagram e o Snapchat - é o fato da ausência de adultos, próximos ou distantes. Não só de adultos, mas de todo universo adulto.

Retorno aos quadrinhos Charles Schulz, Peanuts, como o Snoopy, Charlie Brown e sua turma. Neles, os adultos não aparecem, a não ser pelos sons estranhos, simulando a fala. Acredito que para Schulz, o destaque do universo infantil estava no fato de querer mostrar, ao contrário do que muita gente pensa, que o mundo das crianças é carregado de dúvidas, problemas, questões existenciais e dilemas constantes


Aliás, acredito ainda que mais do que nós adultos, crianças e adolescentes possuem uma capacidade interrogativa maior, onde o tempo se encarrega de ir aniquilando, transformando-a em aceitação.

Nas redes sociais, a ausência de pais, mães, tios, avós e outras autoridades adultas tem a função de permitir ao jovem, a construção de um mundo à parte, um simulacro do real, por meio de imagens que constroem não o mundo em si, mas, aquilo que ele deveria ser.

Não obstante, é possível ver, nesses registros, imagens de uma mundo de subversão, com a presença constante de bebidas alcoólicas, drogas ilícitas e som no último volume; um espaço de permissividade, onde o universo noturno é valorizado, em oposição ao estabelecimento de horários no ambiente doméstico; os discursos, com desabafos, confissões e verdades (quem ambientes comuns nunca poderiam ser ditas, surgem como um campo novo de oralidade, pouco explorado por interessados no assuntos (e curiosos de plantão).

Esse mundo à parte não está livre da presença dos olhares atentos dos adultos. Por isso mesmo, o surgimento de novas redes, a apropriação destas pelos jovens e sua rápida mudança para outras redes sociais é uma constante. O Facebook, apesar de se manter na liderança, como a rede social da internet mais acessada, perde, a cada ano, a preferência entre os jovens. Motivo, a presença de membros da famílias, como os pais, tios e até mesmo avós, o que cria uma espécie de campo minado, onde nem tudo pode ser dito, mostrado ou compartilhado. Diferente de outras redes que ainda não foram totalmente ocupadas, como o Instagram, o Snapchat, o Twitter, o Viber e o Tumblr.


Uma constatação numa rápida tour por fotos no Instagram, onde a viagem de férias com a família é substituída por paisagens vazias, closes sinistros, fotos de momentos que tentam expressar sentimentos e a seleção prévia de quem aparece nas fotos (as legendas revelam: "eu e meus amigos na praia"; "#partiu balada"; "Festinha com os amigos"; "aniversário de fulano").    

No Snapchat, algo mais curioso. A necessidade de se expressar, de contar, revelar, confidenciar é muito mais interessante. Não importa quem seja o ouvinte, uma vez que as outras redes sociais servem como divulgadoras, seguidas do apelo "me segue", "dá um like", "me add", "mandem seus snaps" etc.


Enfim, um mundo curioso, onde a Terra do Nunca está ao alcance de crianças, jovens e adultos que pelo milagre digital conseguem manter a jovialidade. 

Enfim, se gostou do texto, não esqueça de dar um like, me seguir nas redes sociais, me adicionar... 

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