O ABORTO EM DEBATE E O ZIKA VÍRUS


Em tempo de epidemia do ZIKA VÍRUS e do aumento de casos de microcefalia no Brasil, o debate sobre o direito ao aborto volta à pauta da discussão.


CASOS DE MICROCEFALIA VOLTAM A COLOCAR O ABORTO EM PAUTA NO BRASIL

GRÁVIDAS COM ZIKA FAZEM ABORTO SEM CONFIRMAÇÃO DE MICROCEFALIA 

"O ZIKA TORNA INEVITÁVEL O DEBATE SOBRE O ABORTO", DIZ SUZANNE SERRUYA, DA OMS


Era de se esperar que, mulheres em desespero (e com razão), iniciassem o processo de interrupção da gravidez.

Nesse cenário surge três possibilidades:


Decidir-se por não ficar grávida, se prevenir ao máximo e esperar tudo isso passar. O planejamento seria a palavra de ordem. Não engravidar, mesmo que o desejo da maternidade fale mais alto.

Outra alternativa é arcar com as consequências pois, entra a máxima da responsabilidade pela criança e decidir, por uma questão moral, permitir que a nova vida venha ao mundo e dar todo o carinho e proteção que toda criança merece.

E, por fim, a decisão de interromper a gravidez.

O debate deve ser colocado com lucidez, afinal, há algo que todos colocam, mas sem a devida sinceridade, no caso, a culpabilização do casal, mas sobretudo da mulher que engravida. Existem aí, dois debates diferentes, que sempre aparecem como sendo único.

No que diz respeito às relações sexuais, a sociedade coloca o debate dentro da mesma lógica do mundo do trabalho, onde as relações pudessem ser totalmente controladas, com dia, hora, formato e regras bem estabelecidas. Sendo assim, costumas-se dizer da mulher que engravida: se ela fez, tem que ser responsável; por que não pensou na hora de fazer; fez o filho, agora assume e por aí vai.

Acredito, por exemplo (e isso é apenas uma hipótese pessoal), que boa parte das pessoas conhecem os métodos contraceptivos, sabem como se prevenir e, no geral, procuram fazer isso. Porém, há uma diferença entre o planejado e o que realmente acontece.

O debate sobre as relações sexuais tem que passar por isso, pois falamos de impulsos que não passam em geral pela lógica de produção e pela ideia moral do que deve ser o ato sexual, com horário marcado, com os rituais vendidos pela indústria do sexo, seguindo tutoriais de Kama Sutra.

O debate sobre o aborto trabalha uma questão importante: o direito da mulher de decidir sobre o próprio corpo; de decidir ou não em levar adiante uma gravidez muitas vezes não planejada; e, de arcar muitas vezes sozinha com a difícil tarefa de dar luz a uma criança que enfrentará todas as dificuldades da vida.

O que fica no debate são dúvidas, que precisam ser colocadas e pensadas o mais rápido possível. Abaixo, algumas dúvidas, as quais não tenho resposta, mas acredito serem necessárias conduzir com lucidez ao debate sobre o aborto:

- Por que a ciência ainda não avançou para criar um anticoncepcional masculino?

- Como seria a legalização do aborto, caso ele seja aprovado um dia? Quem terá direito? Como serão os procedimentos?

- Onde fica o papel da escola e de um projeto educacional realmente sério para tratar questões como educação sexual, planejamento familiar, métodos contraceptivos etc?

- Onde as religiões, por meio de seus líderes teriam a responsabilidade pela questão, uma vez que não contribuem, mas insistem em frear uma discussão aberta da questão?

- Teremos todo uma geração de mães e crianças que necessitarão de políticas públicas para poder ter condições de vida. Você que é contra o aborto, o que acha disso?




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