O PENSAMENTO SIMPLÓRIO EM UM MUNDO COMPLEXO

Costumo dizer que a internet, juntamente com as redes sociais, é o portal do inferno. Toda a sorte de banalidade se encontra nesse novo espaço de socialização, onde as possibilidades do discurso se ampliam, sem que esse passe uma censura prévia dos próprios sujeitos.

A lei dentro desse espaço é, se eu vi gostei, compartilho; se disseram e eu acreditei, tenho como verdade; se expuseram e não gostei, ataco. 

A participação política e a discussão de assuntos delicados, vira um show macabro de achismos e equívocos sem tamanho.

A última pérola que presenciei, e que me incomodou muito, foi a de uma imagem, mostrando um pote de Maionese reivindicando a possibilidade de ser shampoo. Tudo isso para criticar uma suposta ideologia de gênero.

Objetos usados para explicar a sociedade

Primeiramente, não entrarei no mérito dessa discussão, pois nada entendo disso, a não ser o pouco contato com colegas engajados nessas questões, algumas poucas leituras e minha experiência como professor.

É na minha profissão que percebo que alguns temas deveriam fazer parte do currículo escolar, como a questão de gênero, das diversidades, toda uma educação sobre sexo e planejamento familiar, doenças sexualmente transmissíveis etc.

Porém, essas discussões, tal como o material necessário para se trabalhar nas escolas com o jovens é barrado devido a grupos que, distantes do contexto escolar, insistem em "jogar a criança fora com a água do banho".

Um exemplo do equívoco está na imagem que usa objetos inanimados para discutir questões da sociedade. O que seria engraçado, se esse pensamento simplório não tivesse tanto poder assim.

No exame do ENEM 2015, Simone de Beauvoir foi a vítima da vez

Essa discussão rasa, acalorada e carregada de sentimentos de grupo (de um lado e de outro), mina todo o processo de discussão racional visando o bem comum. Abre-se espaço para fantasias e lendas, onde o trabalho sério de profissionais é descartado sem ao menos ser analisado.

Uma imagem, com frases de efeito, passa a ter tanto impacto que qualquer grande mente fica ofuscada diante da poderosa névoa da ignorância.

A história vira uma bricolage de fatos descolados de seu tempo e o maniqueísmo infantil dá o tom. O resultado disso é a divisão da sociedade, entre os bons e os maus e nunca um projeto de país, com respeito às diferenças e principalmente, apreço pela educação e pelo conhecimento.

Enfim, vivemos o obscurantismo de ideias que tornam a inquisição um fato menor diante da barbárie atual.