QUEM VAI PAGAR A CONTA?

O FIM DE UMA ERA

Acredito ser esse o fim de uma era, a do lulismo-petismo que se inciou em 2003, de maneira gloriosa e necessária para o Brasil e o seu povo (estou falando da massa de miseráveis e excluídos; dos pertencentes às minorias invisíveis; daqueles que só apareciam nas piadas maldosas ou romantizados nas novelas; dos jovens que até então, não sonhavam ascender socialmente; para as classes que não tinham poder de consumo etc.). Porém, como todo ciclo, o adeus se faz necessário e, talvez, reste à presidente sair de uma maneira honrada, cumprindo seu mandato, é claro. 

Fernando Henrique esperando Lula, em 2013

Mas, nem tudo é negatividade. Algo que aprendi na universidade que pode parecer banal é, não se pode jogar a criança fora com a água do banho. Talvez, o ódio e rancor instalado contra o Partido dos Trabalhadores impedem de ver que houve avanços, mas, a emoção burra dos contrários não consiga perceber. 

Só quem se beneficiou, sabe do que estou falando. No caso, meus alunos de quatro/cinco anos atrás, que hoje estão formados, muitos, exercendo a profissão. Dos diversos movimentos sociais que conseguiram colocar em pauta suas reivindicações, possibilitando uma visibilidade nas questões que até então não faziam parte das discussões no cenário sócio-político brasileiro.

Nunca antes na história desse país se discutiu questões pertinentes aos direitos, daqueles que não tinham o direito a tê-los. As políticas afirmativas, tão importantes e aplaudidas lá fora, foram implementadas aqui, com sucesso. O Brasil saiu da clandestinidade periférica do capitalismo, a população brasileira, finalmente, alcançou a auto-estima necessária para fazer o país crescer.

Mas, no meio do caminho havia uma pedra. O Partido dos Trabalhadores se perdeu na luta para alcançar o poder. Muitos pularam do barco, as primeiras denuncias surgiram como um sinal que deveria ser respeitado, o partido teria que fazer uma reavaliação de sua história e de seus ideais.

Não fez.

O pior inimigo do PT, foi o próprio PT. Que enterrou não só sua história, mas a história de luta de anos e anos de milhões de brasileiros. Resta apenas o lamento de um partido, partido.


DAS FORÇAS QUE MOVIMENTAM O CENÁRIO POLÍTICO

Mas, a preocupação são as forças ocultas que movimentam todo cenário político atual e que querem, a qualquer custo retomar o poder perdido em 2003.

Não, essas forças não perderam para o Partido dos Trabalhadores, perderam para as conquistas dos movimentos negro, LGBT, das mulheres, dos que lutam em prol do aborto, da legalização da maconha, pelo meio ambiente, por moradia, saúde de qualidade, transporte público, por dignidade e justiça social.

É muito para um país que vive à sombra de uma sociedade escravocrata, de coronéis e sinhôs.

As diversas bancadas do congresso engessaram, de forma criminosa, o atual governo. Com um único propósito: defender seus propósitos.

É a bancada ruralista, defendendo seus latifúndios a custa do sangue de mais índios e pequenos agricultores, que transformam a região Norte e Centro-Oeste numa "terra de ninguém" a impunidade.

É a bancada evangélica, na missão salvadora querem respeito, mesmo nos empurrando goela abaixo sua crença e interesses privados, em nome de um Deus salvador, ao qual eles são representantes aqui na Terra. Que o diga aqueles que pertencem às religiões africanas e são obrigados a se esconderem, vivendo clandestinamente sua fé.

É a bancada da bala, que quer implantar um novo mercado aqui no Brasil. Afinal, tanto ódio e rancor tem que ter uma válvula de escape. Então, bala em quem estiver na frente. Se for preto, pobre e da periferia, melhor ainda.

É a bancada das grandes empresas, que nunca aparecem nos noticiários e que são quase que endeusadas, pois empregam pessoas, "distribuem renda" e ajudam a economia do país.

            


A GUINADA CONSERVADORA

Dentro de um ciclo político, nada mais normal que, de tempos em tempos, ocorra uma guinada conservadora, afinal, nessa década e meia, os conservadores sofreram. O problema é que a mentalidade do brasileiro médio, conservador, é de extrema violência, com um rancor e ódio pouco visto em outros países com a mesma tendência. Aqui, não se invade o território do outro, não é permitido. 



O meu receio são os próximos anos, é o retrocesso no campo dos direitos, da reversão das conquistas. O fetiche é a economia, o tal crescimento econômico, que nada tem a ver com o desenvolvimento social. 

Às custas de quem ocorrerá o sonhado crescimento econômico?

As pessoas que saíram na Paulista, no dia 13 de Março, tinham sim propósitos, estavam sim exercendo seu direito à manifestação e, por isso, mereciam todo o respeito.

Porém, o que movia a multidão era uma miríade de desejos pessoais, individualizados, que não passava nem perto de um projeto para o país.

O que elas queriam é a retomada do poder de compra, a estabilidade de seus empregos, as regalias ofertadas pela sociedade de consumo. Não eram os cidadãos, mas, o consumidores que estavam nas ruas para protestar, o direito de compra prometido pela sociedade do capital.


A ética que move a multidão é a ética do capital, que movimenta a sociedade de consumo. Não se fala aqui de um projeto de país ou dos problemas reais que atinge a todos ou pelos menos uma minoria. Até porque, se fosse isso, a greve de professores da rede estadual de ensino, que durou 90 dias no ano passado, teria o apoio da massa do revoltados. Mas, não! Não é educação pública que queremos, mas menos impostos para pagar as escolas de nossos filhos. Não é segurança pública de qualidade, mas, armas para atirar no filha da puta que tentar me roubar. Não transporte público de qualidade, mas redução do IPVA e dos impostos dos veículos, para compramos mais carros. Não é cultura e lazer, para aqueles que não têm, mas, a possibilidade de comprar presentes caros nas datas comemorativas. 

QUEM PAGA O PATO???

Quem paga o pato e quem irá pagar caro, são aqueles que não foram na Paulista, que não sabem que direita ou esquerda estamos falando. São aqueles que ainda não nasceram, mas que provavelmente morrerão de bala perdida, de alguma doença de pobre. São aqueles que ainda não tem moradia e que, para a uma seguimento da população, não tem moradia porque são acomodados. São os responsáveis pelo atraso do país e pela falta de refinamento da nossa sociedade.

Os próximos anos serão nebulosos, pois as forças que estão orquestrando o caos são velhas conhecidas e que não vêm a hora de manter seus podres poderes.

Só temo pelos meus filhos :(







Comentários