O PÃO NOSSO DE CADA DIA



Amanhã, dia 05 de Novembro de 2016, milhões de jovens farão o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). O maior processo seletivo do país, que permite acesso às universidades públicas e aos programas de incentivo ao ensino superior.

Enquanto isso, milhares de jovens, tiveram suas provas adiadas para o mês de Dezembro, devido às ocupações que vêm ocorrendo em escolas públicas, universidades públicas e particulares (no momento em que escrevo, até o momento, a PUC-RJ foi ocupada).

O evento acirrou ainda mais os ânimos da massa. Há os contrários, que criticam a ação dos jovens estudantes e criticam o movimento, alegando que é parte de uma doutrinação ideológica, por partes de professores e partidos políticos. Existem os que são favoráveis, pois entendem que a medida provisória apresentada pelo Ministério da Educação (MEC) e a proposta de emenda constitucional 241 (PEC 241), representam ameaças sérias à educação nos próximos anos.


Dois grupos se colocam em lados opostos, mesmo que a questão envolvida seja a mesma, a saber, a EDUCAÇÃO DE QUALIDADE PARA TODOS. Porém, como entender essa divisão, afinal de contas, se o tema é o mesmo, por que não há uma unidade de pensamento e movimento?

A melhor metáfora para explicar isso, talvez, seja a da luta diária que todos nós enfrentamos no cotidiano. Nesse contexto, existem aqueles que lutam para garantir o almoço e a janta, ou seja, uma alimentação básica, para poder sobreviver. Quem sabe, se o esforço for grande o suficiente, seja possível conseguir um suco e uma sobremesa, como recompensa. Esses sabem, que o esforço deve ser contínuo e diário, acreditam que a comida no prato depende apenas dele e de mais ninguém. Nesse contexto, quem trabalha e batalha tem, já os quem não se esforçam...

Existe outro grupo de pessoas que também lutam e trabalham, porém, acreditando que a luta deva dirigir-se ao objetivo de não apenas conseguir a alimentação dia após dia, mas a garantia da alimentação, todos os dias, de qualidade, para todos, de forma indiscriminada. 

Mas, aí, perguntaria o primeiro grupo: E quem não se esforça, merece mesmo assim?

Sim, pois estamos falando de questões básicas que envolve não apenas o direito à alimentação, mas o direito à educação, à saúde, à segurança, à moradia, enfim, direitos sociais básicos, que possibilitem que todos estejam no mesmo nível e nas mesmas condições, para que possam lutar pelos seus objetivos.

Somente em condições iguais é que se pode falar em mérito e é possível fazer um julgamento baseado na meritocracia. Caso contrário, estaremos julgando as habilidades de pessoas a partir de condições desiguais, o que seria o mesmo que criticar um peixes por não realizar vôos. 

Entendo os que estão preocupados com o futuro, dentro de um âmbito individual. Porém, é necessário entender que algo maior está em jogo. Nesse caso, o futuro da educação do país nos próximos 20 anos, a forma como o atual governo vem sacrificando os direitos adquiridos da maioria absoluta da população, de uma verdadeira reforma do ensino que possibilite educação para todos e de qualidade.

Infelizmente, numa batalha, a primeira a morrer é a verdade. Nesse caso, o que os noticiários mostram é uma "meia verdade" ou apenas a verdade que convém mostrar. As questões envolvidas são amplas e requer uma capacidade de interpretação da realidade, que só um ensino de qualidade pode proporcionar. O que não é o nosso caso.


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