EXCLUIR OU NÃO EXCLUIR, EIS A QUESTÃO...



Com o acirramento do embate político, gerado por um dualismo antagônico, as redes sociais da internet transformaram-se em campo de batalhas. Em alguns momentos assumindo aspectos de uma Guerra Fria, onde são disparadas indiretas para todos os lados, mas que nunca se concretizam num embate de fato. Em outros, as cordialidades são deixadas de lado e os ânimos se exaltam. 



A partir disso surgem as decisões de bloquear a pessoa, tirando-a de sua timeline, simplesmente abortando sua existência virtual. Sempre me perguntei se era correto, pois eu mesmo não costumo excluir pessoas, prefiro não responde-las ou até mesmo evitá-las. Mas, confesso que isso é difícil, então, tento conter meus ânimos e não comentar nada ou partir para a discussão.


PLATÉIA AMIGA

Nesse embate que causa brigas entre conhecidos, colegas, amigos, parentes e até mesmo em parentes muitos próximos, é possível perceber que utilizamos o mundo virtual das redes sociais como um espelho, tentando nos aproximar daqueles ou daquilo que tenham uma relação com as nossas opiniões, nossas preferências e os nossos pensamentos. Em resumo, uma terra de iguais, - onde quem não está de acordo, seja por discordar ou por viver uma vida diferente da minha - será banido para longe.



O próprio sistema se encarrega disso, nos poupando do trabalho de toda hora selecionar o que queremos daquilo que não queremos ver. Nesse sentido nossa timeline não reflete o mundo, sequer a opinião de uma maioria, no geral, o que redes sociais como Facebook faz é criar uma bolha, onde cada sujeito terá contato com o mundo criado pela própria rede a partir de algoritmos que irão direcionar as postagem que mais estejam de acordo com seu perfil. Em segundo lugar, o alcance das nossas publicações não atingem sequer 5% dos nossos "amigos" na rede (aliás, bem menos que isso). 

Em linhas gerais, esse mundo virtual amplo, que me apresenta o mundo, na verdade, apresenta o mundo que os sistemas inteligentes criaram a partir dos meus clicks, das minhas visualizações e compartilhamentos.

TODA BRINCADEIRA ESCONDE UM FUNDO DE VERDADE


A facilidade de alterar esse mundo a partir de um simples clicar de botões faz com que atitudes extremas venham à tona, refletindo velhas práticas do mundo concreto das relações face a face. Porém, a intolerância se manisfesta de maneira muito mais rápida, pois o imediatismo e a rapidez com que as coisas ocorrem no mundo virtual proporciona esse tipo de atitude. Assim, é muito comum nos expressar a partir de emojis, comentários breves e até a atitude radical de excluir o outro. O outro que também já não tolera muita coisa e que passa a entrar nesse jogo: "Quem for a favor de tal coisa, vou excluir", "quem apoia tal questão, por favor, me exclua", "vou excluir todo mundo que curte tal página ou mensagem".
Após a ameaça, o fato se concretiza e a pessoa está livre daquele que pensava diferente. Pronto, ela pode dialogar com os que pensam da mesma forma ou, talvez, com ele mesmo.



Não faço aqui julgamentos, mas é possível perceber que os preconceitos, as convicções, o ódio e o rancor, assumem todos eles uma firmeza quase irracional e não adianta dissolver essas ideias.

Tentar convencer o outro é impossível, mesmo que ele perceba seus equívocos e porque não se trata de um diálogo, mas de uma disputa de poder onde vence quem tem mais likes, mais compartilhamentos, quem escreve textos maiores ou que consegue sacar da manga um meme matador, que põe abaixo, com uma imagem, todo um tratado filosófico de séculos.



EU, SOU UM VERME!


Lembro que fui expulso de um grupo do sindicato dos professores, simplesmente por ser irônico e, pasmem, nenhum professor entendeu o significado da postagem.

Não demorou muito um sujeito me stalkeou e para sua surpresa eu curtia as páginas do Malafaia e do Bolsonaro. Não demorou muito para ele me chamar de verme, me denunciar para o restante do grupo e me excluir. 



Para discordar do outro precisamos escutá-lo, saber o que ele pensa e como pensa. Mudar sua opinião é extremamente difícil, mas me afastar faz com que eu crie também verdades incontestáveis, tornado-me assim um igual em termos de intolerância.


Para todo diálogo é necessário o momento certo, que pode nunca chegar de fato, mas é importante para diminuir o nível de intolerância generalizado.

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