O QUE NOS RESTA EM MEIO À CRISE?



No dia 27 de Junho, a Polícia Federal suspendeu a emissão de a passaportes alegando crise orçamentária. Isso serviu para demonstrar o tamanho da crise que atinge o país, onde as liberdades individuais estão limitadas por questões econômicas.

Infelizmente, a percepção é que a crise está em todo o canto: comércios fechando; desemprego em larga escala; casas com famílias inteiras sem trabalho e sem condições de extrair renda de outras fontes; controle nos gastos; aumento da violência; enfim, a situação está caótica.


Mas, a crise não é apenas um assunto para os cadernos de economia dos jornais. Ela atinge principalmente as nossas relações e interações, atinge nossa autoestima, cria situações complicadas nos relacionamentos. Resumindo, na crise tendemos a amar menos, a brigar mais e perder as esperanças e, porque não dizer, o tesão.

Acontece que, em momentos como esses, situações provocantes surgem para re-significar o próprio sentido da vida e os rumos que devemo tomar.

O historiador francês George Duby, num livo sobre a Idade Média, argumentava que em momentos de miséria há uma solidariedade maior, pois o reconhecimento da igualdade em meio a um contexto de escassez é bem mais comum do que em momentos de prosperidade, onde pessoas se diferenciam por elementos variados.

Pois bem, uma das lições que as crises nos ensinam é a fragilidade de determinadas organizações sociais, principalmente as que se baseiam na superficialidade das relações de consumo, na ilusão de criada pela sociedade midiática, que com as redes sociais se amplia.

A crise mostra nossa pequenez diante de interesses externos, que vêm em sujeitos comuns meros números, mão de obra barata, massa de controle e muitas vezes um problema supérfluo.

Então, a pergunta que Lenin colocava: O que fazer?




A questão é que a crise nos coloca num dilema existencial, decidir se queremos jogar o jogo que nos é colocado e tentar sair dela (a crise) por meios já estabelecidos ou inverter a ordem das coisas e promover transformações que nos façam resistir.

Entendo que é preciso resistir e buscar uma nova significação para a vida, pois a crise mostra nossa fragilidade diante do sistema e pior, que realmente não temos nada e que podemos perder cada vez mais.

Assim, a única coisa que nos resta somos nós mesmos e nossa capacidade de reflexão. Porém, essa reflexão não deve se render a ilusão de um mundo hedonista, colorido e feliz, vendido amplamente na sociedade pós-moderna. Nossa reflexão deve ser capaz de nos fazer entender essa complexidade da vida, que é pautada por momentos difíceis, dor e sofrimento. É a partir dessa consciência que devemos construir um novo mundo, onde a nossa ação seja guiada em meio a reflexão de que viver é sofrer.

Somente eliminando as ilusões de uma felicidade virtual, instantânea e superficial é que poderemos, com os pés nos chão, seguir por uma vida consciente.

Conscientes da nossa fragilidade, do sofrimento e de que não temos nada, veremos que a única coisa que realmente possuímos é o outro. Então, se quero construir minha felicidade, devo contruí-la com o outro, certo que isso não é tarefa fácil em meio aos problemas.

Antonio Gramsci, pensador italiano, colocava que a palavra de ordem deveria ser o pessimismo do intelecto e o otimismo da vontade. Pois é assim que devemos encarar, uma consciência pessimista e esclarecida diante de uma realidade, caminhando ao lado de uma ação otimista, pronta para transformar a realidade.

Em meio a crise temos nossas vidas, temos uns aos outros e a pergunta que fica é: será quer precisamos de mais alguma coisa?



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