A TRISTEZA COLETIVA

Imagem do filme "Ladrões de bicicleta" (1948), de Vittorio de Sica


Estamos num momento de crise, isso é certo. Porém, não um simples momento de crise econômica apenas, e sim uma total crise de paradigmas, de transição, de fluidez nas relações, instituições e de tudo aquilo que tornava nosso mundo sólido e ilusoriamente "seguro".

E não hesito em afirmar que a situação não tem previsão de melhora, durará ao menos uma década ou mais. E acredite, não é uma previsão fruto de um pensamento pessimista, é apenas a verdade.

Não quero com isso aqui ficar apontando culpados, entrar no mérito da conjuntura política ou buscar explicações de como entramos nessa. A crise é geral, e por que não dizer, necessária.

Diante disso, percebo que entramos num processo de desânimo coletivo, o que denomino como uma tristeza coletiva.

Sou professor do ensino médio e percebo isso em meus alunos, desanimados com as falsas promessas, com o futuro incerto e desesperançosos com os diplomas oferecidos, que não são mais que cheques em branco.

Entre meus colegas o quadro não muda, a mesma sensação de tristeza coletiva. Desemprego, queda da renda, o custo de vida, a situação do país, que sem sinal de melhoras não permite otimismo. Nunca se falou tanto em depressão, nunca recorremos tanto a remédios e demais alternativas para enfrentamento da crise. 

Recentemente, a morte de dois astros do rock deixaram todos chocados, surpresos e preocupados. Estou falando de Chris Cornell (um dos nomes do movimento grunge) e de Chester Bennington, vocalista da banda Linkin Park. Ambos cometeram suicídio, num momento em que suas carreiras eram estáveis e que, diferente dos demais, levavam uma vida que a maioria gostaria de levar, com reconhecimento mundial, dinheiro, viagens e shows pelo mundo inteiro. 

Esses dois, entre outros tantos que eu poderia selecionar demonstram que vivemos numa sociedade onde todos precisam de cuidados, onde o debate sobre o uso e abuso de drogas (sejam elas o refrigerante comprado no mercado ou as substâncias adquiridas ilegalmente), deve passa por um questionamento filosófico de extrema urgência: afinal, que sociedade queremos?



Não tenho essas repostas, e nessa altura você deve estar pensando que esse texto é pessimista e que não vejo solução. Ao contrário, percebo que se faz necessário repensarmos nossas vidas e a forma como a conduzimos. Em linhas gerais, num momento onde a tristeza é coletiva, os enfrentamentos devem ser coletivos. A resistência deve vir dos pequenos atos, da união e da celebração de coisas simples, porém, importantes.

É necessário que conversemos mais, pessoalmente. A valorização dos encontros e reuniões de grupos, os passeios livres e descomprometidos, uma volta a um passado onde, com muito pouco, as pessoas tinham a capacidade de rir e perceber que não estavam sozinhas.

Esses pequenos atos não resolverão os problemas de toda conjuntura da crise atual, mas irão com certeza nos fortalecer para o que vem pela frente.

Pensem nisso!


Comentários