MINHA VELHA AMIGA


Desde que me entendo por gente ela me acompanha, mas durante muito tempo eu não tinha uma denominação, eu apenas sentia. Pior fase. O fato de ser filho único, poucos ou nenhuma amizade de fato e a superproteção dos meus pais, colaboravam para que os momentos de depressão acontecessem com frequência.
Na juventude isso só piorou, com a fase de incertezas, onde a pressão dos grupos era forte e um outro agravante, a timidez. Não sei se há uma correlação entre um e outro, mas esse fatores sempre dificultaram minha vida. Depressão e timidez. Com o tempo fui aprendendo a lidar com a depressão. Às vezes, ela chegava e ficava muito tempo, outras vezes era só uma dor passageira. Naquela época como hoje, bastava um simples acontecimento e o gatilho era disparado. Pior sensação. Hoje me considero melhor, mas ainda tenho medo, ainda sofro.
Vejo que muitos dos meus alunos sofrem do mesmo problema. Nos últimos anos vi pessoas perdendo a batalha para essa doença e toda vez que isso acontece fico muito triste, pois eu sei um pouco do que a pessoa sentiu, da dor profunda.
Percebo que, na maioria das vezes, o grande problema das pessoas que possuem depressão está em casa. Há ainda muito equívoco, muito preconceito. Não se aceita o problema como uma doença. Costumam dizer que "é frescura", "é preguiça" e por aí vai. Isso quando não começam a encher a pessoa de "por quês". Pior coisa, pois nos sentimos culpados. Não, não temos culpa. Ela é mais forte, incontrolável, silenciosa.
Acredito que a questão da depressão envolve, por parte de quem quer ajudar, educação para o tema. A capacidade de escutar o outro e estar sempre que possível presente. Tal como a gripe ou o diabetes, é uma doença e precisa de atenção, principalmente num momento que os números só aumentam, assim como os casos de suicídio vêm cada vez mais tomando conta dos noticiários.
Enfim, é só um desabafo.

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