LA LA LAND E O JAZZ DA VIDA

"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música."
Friedrich Nietzsche


Acabei de assistir La La Land, filme de 2016, dirigido por Damien Chazelle (mesmo diretor do excelente Wiplash), e quase vencedor do Oscar 2017.

Escutei várias críticas sobre o filme, muitas delas direcionadas a um roteiro fraco etc. Mas, irei colocar minha opinião ao final. No momento, gostaria de destacar uma cena específica, que de cara me interessei muito, seja pela paixão que nutro pelo jazz, seja pela lição que a cena em questão nos passa.

Em determinada cena, Mia (Emma Stone) afirma, para espanto de Sebastian (Ryan Gosling). que odeia jazz.

Ela, uma aspirante a atriz, que fracassa em todas suas audições. Ele, uma pianista, saudosista, que sonha em abrir um clube de jazz. Ambos têm em comum os sonhos e objetivos que os levem à felicidade.

Porém, em um momento de frustração Mia diz que deveria ter se formado em Direito e ter desistido do sonho de ser atriz. É nesse momento que Sebastian lhe diz para fazer seus próprios roteiros, criar suas próprias estórias, reinventar seus caminhos.

A metáfora do jazz surge nessa proposta, encarando a vida como um mar de possibilidades, onde a criatividade deve estar a serviço da própria vida.




Sebastian explicando para Mia a magia por trás do jazz

Um caminho que não é fácil, pois sempre nos é cobrado a estabilidade de uma vida segura, das decisões ditas "corretas", dos caminhos sem surpresas ou novidades. Tudo isso em nome da criação, da arte e do próprio fazer a vida de modo diferente e constante.

Na cena em que Sebastian mostra a Mia o diálogo que os músicos de jazz travam entre si, criando música nova a cada noite, é possível perceber que mesmo nas diferenças e adversidades, quando temos a possibilidade de criar e dar vazão às nossas pulsões, geramos diálogo, que consequentemente estabelece uma relação de vitalidade entre as pessoas.

Porém, matamos esse impulso criador a cada dia, nos entregando e conformando com a rotina diária. E, estou longe aqui de condenar a importância da rotina, mas, é preciso que tenhamos a capacidade de poder modificar algo, sempre que possível, nos entregar a ações criativas e com isso criar uma maior conexão com a vida.


Sobre La La Land, o que posso dizer que em pouco tempo será um clássico. Não por ser um filme grandioso, mas, na aparente simplicidade do roteiro ser grandioso.

Primeiro porque de simples ele não tem absolutamente nada, pois é de uma qualidade técnica impecável, além de usar muitos recursos visuais impressionantes. A cena inicial, na ponte, de cerca de dez minutos de plano sequência é, por sim só, maravilhosa.

E o enredo nos mostra que nem sempre o que amamos iremos ter para sempre, seja pelas transformações e rumos que surgem no decorrer da vida. Seja porque muitas vezes, para ser completo precisa morrer. O amor de Sebastian e Mia é perfeito, eles se completam, porém, na singularidade de cada um surge a necessidade de correr atrás dos sonhos. Então, juntos não conseguiriam ser felizes na totalidade, por isso tiveram que se separar. Assim, possibilitariam ainda o amor que um dia os juntaram. Como num jazz, que tem toda a intensidade e pulsão necessária e, quando pensamos que vai durar, a música acaba, para permanecer soando para sempre na nossa mente.


Excelente filme, com certeza!



Comentários

  1. Excelente texto Alex.
    Mas não esqueça de avisar os leitores que seu texto tem spoiler....hehehehe
    Muito perspicaz sua leitura da metáfora que está presente (de forma nem tão didática) no filme, sobre as potencialidades da existência que são anestesiadas quando se opta pela rotina, pelo conforto de uma vida mais segura e previsível, e como isso tem tudo a ver com o jazz que é um estilo de música que se aventura pelo improviso, pela constante exploração de possibilidades não previstas em detrimento da execução de uma partitura sempre estanque.
    Porém discordarei da sua previsão de que o filme se tornará um clássico. Do ponto de vista cinematográfico, na minha opinião, o filme contém méritos técnicos impressionantes, principalmente no campo da fotografia, onde destaco a cena inicial que vc citou e ressalto também a cena onde esles dançam ao por do Sol, antológica do ponto de vista fotográfico.
    Mas um clássico não se faz só de técnica. O conceito que move o filme está ali, a boa fotografia também, mas falta alguma coisa. Uso a sua própria leitura pra fazer minha crítica, o roteiro é fraco e previsível.... não explora as possibilidades que ele próprio abre...se atém a soluções fáceis e seguras, não se aprofunda nas personagens, não propõe situações ou soluções criativas. Muito diferente do que Damien Chazelle faz em Wisplash (esse sim...uma obra prima).
    Será um clássico. Creio que não. Mas só o tempo dirá.
    Abrássss.

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  2. Valeu pelo comentário, sem dúvida, acrescentou ainda mais à minha análise.
    Só acho que tu deveria botar teu blog sobre cinema pra funcionar, seria de grande valia.

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