ONTEM EU MORRI... AINDA BEM!



Ontem eu morri, ainda bem!

Depois de um tiro disparado por um amigo (e quem disse que não existe fogo amigo?), acertou em cheio meu coração e minhas emoções.

Senti uma dor profunda e, numa bad trip surreal, sentado numa privada de um banheiro aconchegante, em um boteco vintage hipster, iniciou-se o processo.

Sozinho.
Aliás, sozinho não! 
Estavam lá meus demônios todos, sussurrando ao meu ouvindo "você está morrendo".
De repente, pedaços do meu eu escorriam pela boca, enquanto tentava entender o que estava acontecendo.
Ontem eu morri, ainda bem!

Amanheci num quarto de hotel em meio a escuridão. Ao acender a luz e me ver no espelho percebi que já não estava mais lá. Era um outro.

Troquei Leminski por Bukowski.

Os demônios ainda estavam ao meu lado e pelo reflexo no espelho pude vê-los, desta vez sussurrando "você morreu, agora é outro. Doeu, afinal, o autoconhecimento é uma descida ao inferno".

Já não sentia mais nada, nem dor ou sentimento algum. Agora o meu eu era outro.

Ontem eu morri, ainda bem! 

Pois, pra renascer é preciso morrer.

Agora sei que estou forte, pronto e com a certeza de que sou melhor. Muito melhor, tenha certeza.

Sozinho não mais, pois tenho eu.

Ontem e morri, ainda bem!

E por que demorou tanto para perceber o efêmero, incerto, a trama de inversões?
Enfim, todo caminho é necessário e toda a morte é certa para quem está disposto a renascer.
Ontem eu morri...

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