A POLÍTICA IMPOSSÍVEL

O FAZER POLÍTICA É ALGO REALMENTE POSSÍVEL PARA UMA SOCIEDADE ALIENADA?



A rotina é a mesma. Milhões de pessoas acordam cedo, saem de suas casas, enfrentam um dia atribulado em transporte precário, condições de trabalho estafante, toda a pressão social comum a um tipo ideal (Max Weber) de indivíduo comum.

Ao chegar em casa, essas milhões de pessoas irão dividir o tempo que sobra em atividades e problemas domésticos, conflitos e questões pessoais e, finalmente, ao descanso tão merecido.


A pergunta que fica é: como essas milhões de pessoas irão participar da política do seu país?


A resposta nessa caso seria a de que dificilmente irão participar, pois, o modelo de sociedade ao qual esses indivíduos estão configurados dificilmente lhes permitirá tamanha façanha.


Aristóteles já considerava o "homem" como um um "animal político". Epistemologicamente a  palavra política está intimamente ligada à pólis, a cidade, local e espaço que seria o palco de exercício da política. O cidadão, segundo Aristóteles, seria o habitante da cidade.

Contraditoriamente, a cidade é que irá eliminar a condição do exercício político, pois é nela que a lógica da alienação se impõe como fator central de organização da sociedade.

Sendo assim, a concepção de Marx está correta quando argumenta que a organização por meio do trabalho alienado condicionaria todos outros espaços e relação dentro de uma organização pautada pela alienação (veja vídeo explicativo do conceito aqui).

Para a participação política é necessária uma educação para a política e não coloco aqui a questão da educação formal apenas, mas de espaços que permitiriam a plena reunião dos cidadãos em discussões e reflexões sobre a política. A análise partindo de leituras e, com isso, possibilitar a crítica e auto-crítica como condição sin qua non para que realmente as pessoas pudessem participara da vida pública.

Mas, como fazer isso se a alienação social é uma realidade posta? Não se faz, simples assim.

O que temos é uma multidão imersa numa condição alienada, incapaz de refletir criticamente de maneira ampla, avulsa nos esquemas que organizam a política.

Entender os meios de participação, as leis, os deveres, desenvolver a sensibilidade para vida coletiva são elementos distantes para aqueles na qual o único objetivo é conseguir sobreviver ao fim do mês (veja música de Raul Seixas).

A alienação social retira dos indivíduos a sensibilidade de perceber o outro, de ir além daquilo que é posto como certo e dos caminhos rotineiros.

Dessa forma delegamos à política e aos políticos a tarefa de resolver nossos problemas à "toque de caixa". Pena de morte; bandido bom é bandido morto; mais emprego é a solução; menos direito para desburocratização; liberdade ao mercado; controle total; imposições morais às condutas divergentes; enfim, resta aos indivíduos alienados a busca por saídas que retirem deles próprios a cobrança de participação.

Uma política verdadeira só será possível com o rompimento da condição alienada imposta, o despertar da consciência crítica em conjunto com atitudes, o enfrentamento para a participação e o ocupação de espaços que a própria organização social restringe.

Caso contrário, diante desse cenário,  o fazer política na concepção ampla e eficaz torna-se algo um tanto quanto impossível.

Comentários