O SILÊNCIO DOS INOCENTES?

A INOCÊNCIA QUE MATA

O cenário político é de pura tensão e será, não sei por quanto tempo, mas isso é certeza. Não coloco aqui como um desejo maligno que embasa a pensamento do "quanto pior melhor", apenas expresso a análise conjuntural de um processo que a história nos mostra os caminhos. O primeiro erro, ao meu ver, dos brasileiros, é rejeitar toda a história. Sim, somos um povo a-histórico e a consequências disso é trágica, pois vivemos num looping que nos faz repeti-la e como bem lembra Marx, sempre de forma trágica.

Porém, esse texto é direcionado aos neutros, aos que não tomaram ou não tomam partido, ao que não querem se envolver, que ficam em cima do muro, apenas na torcida para que "tudo dê certo".

Em um texto de 1917, o intelectual italiano Antonio Gramsci (1891-1937) escreveu um texto sobre os indiferentes. Nele, Gramsci é categórico, odeio os indiferentes. Segundo o intelectual, viver é assumir uma postura, tomar partido (nesse para além da questão partidária). Ser indiferente é ser um peso morto na história, a bola de chumbo que afunda aqueles que têm o entusiasmo de viver.

A indiferença tem um atuação importante na história, mesmo que passiva ela permite com que as situações aconteçam, pois, no geral, eles são a maioria. Uma maioria que provocam tédio com um discurso neutro e manso, que fica na janela, apenas observando, enquanto outros se sacrificam em nome do todo.

De forma muito simples, podemos fazer alusão aos trabalhos em grupos onde sempre tem grupos ativos, mesmo que divergentes, mas existe o grupos dos que não se manifestam e que por isso prejudicam muito mais o trabalho, pois precisam ser carregados, precisam serem aturados com sua apatia e desinteresse.

Na política, essa indiferença assume uma atuação de comportamento pacto, de uma ingenuidade infantil que, na inversão, culpabiliza aos que se assumem e tomam uma postura. 



A HISTÓRIA É VIVA COM MUITAS MORTES


Nas eleições que deram a Jair Bolsonaro, com mais de 57 milhões de votos, Fernando Haddad ficou em segundo lugar, com com um pouco mais de 47 milhões de votos. No total, foram cerca de 105 milhões de votos válidos, mas os votos brancos, nulos e as abstenções chegaram a 42 milhões, ou seja, daria para mudar o rumo da eleição.

A escolha foi democrática e isso não se questiona, pois a centro da questão está relacionado a algo que ultrapassa o próprio campo da política, que está relacionada à figura do presidente eleito, suas declarações, sua postura em temas importantes para a sociedade e tudo mais que cerca a figura de Bolsonaro e que não cabe aqui relembrar já que tudo isso foi o ponto principal de toda a disputa.

Acontece que o discuso de ódio, de violência e agressivo de Bolsonaro cativou uma legião de fãs cativos, que seguindo quase que uma ordem suprema começara a reproduzir de forma igualmente violenta o discurso do grande mestre, além de ostentar essa violência deliberada por toda a sociedade. 


VOCÊ É INOCENTE?


Rebatendo o discurso que há uma torcida contra, podemos dizer que não, na verdade temos é um cenário sombrio, onde a violência com ligações fortes ao empoderamento dos eleitores de Bolsonaro fervilha na redes sociais.

Em menos de 24 horas após a eleição, um número grande de vídeos de pessoas ostentado armas e até mesmo dando tiros para cima foi registrado; na Avenida Paulista, cartazes do torturador e assassino Carlos Brilhante Ustra foi erguido em ritmo festivo; um menino de 08 anos morreu com um tiro na cabeça enquanto o pai comemorava a vitória do "mito"; 141 jornalistas receberam ameaças; casos de ameaças e agressões foram registrados; um rapaz postou vídeo no Instagram dizendo que ia votar aramado e comemorava dizendo que iria começar a matar "a petralhada e os que tivessem de vermelho" e, ao ver um rapaz na moto, disse: "vamos matar essa negrada" (o escritório onde ele trabalhava o demitiu ao ver as imagens); um rapaz postou um foto com uma arma dizendo: "e aí vadia, tá com medo?" ( a repercussão do caso fez sua mãe fazer um vídeo se desculpando pelo filho); dezenas de homens armados, num clube de tiro, registraram cena atirando de forma frenética para comemorar a vitória do candidato; uma ex aluna, que é atriz, recebeu um vídeo de ofensa às atrizes, dizendo que eram todas "putas"; sem que falar que, até o dia 11 de outubro, mais de 50 ataques foram registrados tendo como protagonistas os eleitores do mesmo.

Não é teoria da conspiração, mas o seu discurso motiva o ódio e de uma certa forma empodera essa massa, e isso não é apenas com Bolsonaro, mas com todos que historicamente tem em sua base essa violência discursiva.

Diante disso, não existe uma inocência, pois quando descobre-se que crianças em aldeias indígenas estão morrendo pela disputa de terras, onde os donos do agronegócio são autores declarados da carnificina, sua neutralidade é manchada de sangue.

E engana-se que essa inocência é melhor que aqueles que assumem o lado da violência, pois a passividade e o silêncio é como uma declaração de individualismo, alienação e empatia com o outro.

Para rebater o discurso fácil que é encoberto com o manto da religião, onde a preces pedem para que Deus ajude, é sempre bom lembrar que nenhuma entidade tem culpa e muito menos pode se esperar delas uma ação, pois esta parte das pessoas.


NUNCA DIGAM, ISSO É NATURAL!

Em um poema do dramaturgo Bertold Brecht, ele pede com urgência para que não naturalizemos a realidade social, deixando que o autoritarismo, ódio, a violência e a barbárie tome conta.

Brecht nos alerta contra a ideia de que o fluxo das coisas obedecem um ordem natural, onde apenas assistimos como espectadores passivos, sem reagir, acreditando que a natureza resolverá as questões.

De fato isso que está por trás do discurso inocente e neutro, ele entrega a resolução dos problemas a terceiros, a entidades divinas e à própria sorte, numa tentativa de se livrar de toda e qualquer responsabilidade.

Porém, o motor da história não para nunca, ele continua a funcionar através de outros tantos que têm seus interesses e que por eles não pensam duas vezes em derramar o sangue em nome de suas causas.

Da mesma forma que levantamos todas a manhãs para trabalhar, estudar, pagar contas, tomar atitudes para que a nossa vida funcione, na consciência que só é possível da sequência da vida através da atitude, da mesma forma ocorre com o jogo político e a realidade. 

Ambas as questões necessitam de uma atitude, de uma postura, de um enfrentamento, de elementos provocativos que façam com que as coisas se resolvam.

Sendo assim, ninguém é inocente e todos somos culpados se não nos manisfestamos e tomamos uma atitude. Assim, aconteceu com Europeus nas fogueiras da Inquisição, com os alemães que permitiram os campos de concentração, com os russos que não denunciaram os horrores dos regime comunista, com os brasileiros que não se manifestaram diante dos mortos da ditadura, entre tantos exemplos de barbárie da história.

Então, diante disso, a pergunta que fica: VOCÊ VAI PERMANECER NA NEUTRALIDADE? 

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