O DESEJO DE MATAR

Charles Bronson, ícone machão dos anos 70
Dois assassinatos trágicos e simbólicos ocorreram no mês de Fevereiro. De um lado, o assassinato do jovem Pedro Gonzaga, asfixiado por um segurança de hipermercado, quando já estava rendido e não oferecia nenhuma resistência. Do outro lado, um taxista é friamente assassinado, em plena luz do dia, por causa de uma briga de trânsito, em João Pessoa, na Paraíba.

O que marca simbolicamente nos dois casos é a frieza espantosa dos assassinos, que se mostram tomados por uma quase missão hercúlea, a de matar, custe o que custar.

O segurança, que matou Pedro Gonzaga, mostrou-se totalmente alheio aos pedidos do público ao redor, que alertaram sobre a condição do jovem que se encontrava desmaiado, roxo e que corria risco de vida na condição em que estava. Os demais seguranças, nada fizeram para controlar a fúria desmedida de Davi Ricardo Moreira Amâncio, o colega de trabalho descontrolado.

Já no episódio em João Pessoa, o Gustavo Teixeira desce do carro com uma tranquilidade espantosa e após três disparos, sai mais tranquilo ainda, ruma a sua casa.

O que chama atenção nos dois casos é que ambos são eleitores de Jair Bolsonaro, que no perfil das redes sociais ostentavam fotos segurando armas, com emblemas de seu candidato e que pregavam um discurso de ordem e moral, típico do auto declamado "cidadão de bem".




O segurança, assassino de Pedro Gonzaga, era enfático na sua cartilha moral, dizia que seu lema era "salvar vidas". Porém, o mesmo já havia sido condenado por agressão a ex-companheira, inclusive, pela lei, não poderia esta na função de segurança pela condenação que havia recebido.


      O MACHÃO SALVADOR

Assim como um herói ou a caricatura de Charles Bronson, ambos enxergavam em si a personificação do cidadão de bem, do pai de família, dos protetores da ordem. E quem não se encaixava no perfil traçado por eles, simplesmente, pagariam com a vida. Numa espécie de eliminação dos impuros e do mal personificado.

Para o segurança do hipermercado, sua insignificância por desenvolver um trabalho subalterno era tão grande, que num primeiro momento não pensou duas vezes: "Agora me torno herói".

Mas o vilão em questão, não era os patrões exploradores, os políticos corruptos donos do poder, muito menos o dono da Vale, responsável pela morte de mais de 300 pessoas em Minas Gerais. Esses não, esses são patrões, pessoas importantes.

O inimigo a ser combatido é sempre o vulnerável, o que está próximo, aquele ao qual a vida não importa para a sociedade. Por isso, ele cometeu o crime sem culpa.

No caso do Gustavo Teixeira, assassino do taxista, o que a imagens mostram é uma pessoa sedenta em descarregar sua fúria contra alguém. E quem melhor que uma vítima indefesa, sentada num banco de uma carro, sem possibilidade de se defender?

Jair Bolsonaro inflou esses egos, mandou um recardo direto: "Defendam-se!"
Não a toa que sua campanha não apresentou nenhum plano de governo real, apenas a promessa de liberar a posse de armas para os "cidadãos de bem" e com isso a possibilidade de cada um se defender dos criminosos.

Em linhas gerais, a carta branca que o brasileiro precisa para justificar seu desejo de matar, a saber, o combate ao crime, o estabelecimento da ordem e dos bons costumes, a limpeza de toda impureza que há na sociedade brasileira.

O que não se coloca é quem estabelece o critério é quem está com a arma, são os mais fortes diante dos vulneráveis e que perante a sociedade gozam de boa reputação. Que reputação é essa? Branco, de preferência; hétero; casado; pai; e, empregado.

Esse é só o começo, infelizmente.


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