AMOR TAMBÉM ACABA?

Scarlett Johansson (Nicole) e Adam Driver (Charlie), impecáveis na atuação

Esse é daqueles filmes que prende a atenção pois, mesmo contrariando a linguagem das comédias românticas, seu mérito e o de conseguir inserir o expectador para dentro da relação entre Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson).

O filme do diretor Noah Baumbach não escapa às comparações, primeiramente a obra definitiva sobre as relações do diretor sueco Ingmar Bergman, em Cenas de um Casamento (19736). Porém, é de Woody Allen que realmente ele se aproxima e parece, por vezes, plagiar descaradamente. A começar pela trama que se inicia em Nova York, dos personagens oriundos de uma classe média intelectual artística e por toda trama que sugere inúmeras reflexões sobre o amor (ou o fim dele).

Como no campo das artes não se cria, tudo se copia, Noah Baumbach tem o mérito de fazer uma cópia com seus méritos. A começar pelo tema delicado, mas que na trama é tratado com sobriedade e muita responsabilidade. Longe de ser um filme maniqueísta, o diretor impede que o espectador tome partido e seja apenas a platéia que acompanha um casal em um momento difícil, o divórcio.

Resultado de imagem para história de um casamento
O filme explora o drama de um casal no momento do divórcio
Os personagens estão além do bem e do mal, e não existe culpados pelo fim, mesmo que em alguns momentos sugere-se uma torcida discreta para um ou outro lado, porém, a reviravolta ocorre quando entram os advogados na trama, adicionando toda a frieza da profissão a situação, destoando do casal tão humano. 

Nicole é uma atriz talentosa e uma mulher com personalidade marcante, mas que a certa altura do casamento descobre que sua vida fora anulada em nome da relação desenvolvida com Charlie, diretor de uma companhia de teatro, que basicamente mantém as rédeas da carreira da esposa.

Quando Nicole resolve desabafar sobre sua relação com a advogada, é possível perceber que a relação chegou ao fim, mas não o amor, e é nisso que o filme prende. O filme tem a sutileza de tratar do amor sem pendê-lo para a sexualização pura e simplória, mas vai além, consegue nos mostrar que muitas vezes o amor está lá e estará por muito tempo, mas que por alguma razão a distância se faz necessária. Isso é implícito, pois durante a trama, os dois protagonistas se esforçam para manter uma boa relação, onde nem mesmo a traição de Charlie parece ser algo que condene. Na verdade, é só a "gota d'água" que precisava para dar início ao inevitável, a separação. 

O pecado do diretor foi o de dar pouca visibilidade a personagem de Nicole. Durante boa parte do tempo, o foco fica em Charie e sua tentativa de ficar perto do filho (alheio a situação do divórcio) e lhe dar com toda situação. Nesse momento, um outro filme vem a tona, me refiro a Kramer vs Kramer (1979), estrelado por Justin Hoffman e que também fala de divórcio, as nuances da briga judicial, a dificuldade de adaptação e, pasmem, tendo uma criança entre 7 e 8 anos no meio da disputa judicial. As cenas que mais lembram esse filme ficam por conta dos momentos em que o pai desajeitado tenta ser virar sozinho com o filho, e quando Charlie tenta impressionar a assistente social durante uma visita.

Aliás, o brilho de Scarlett Jonhasson aparece na simulação de uma entrevista a assistente social, onde a câmera foca na interpretação da atriz e onde é possível perceber seu talento já comprovado em tantos outros filmes. 

História de uma casamento nos deixa apreensivos, como bons amigos de uma casal onde o amor não se foi por completo, ele está em transformação, e a torcida que fica é para que um reatamento ocorra ao final, numa espécie de redenção. O que não ocorre de fato, o que deixa explicito toda a complexidade daquilo que é uma das invenções mais intrigantes da humanidade, o amor. 

Comentários