A VISITA

“Quanto mais se afastava da infância e se aproximava do presente, mais insignificantes, mais duvidosas eram as alegrias.”

A morte de Ivan Ilitch - LEON TOLSTÓI

Lucian Freud


Ontem visitei alguns lugares que não ia a tempos, relembrei momentos, sorrisos, alegrias e experiências. Foi um momento de respiro em meio ao caos e toda a tristeza, por alguns momentos sorri e pensei: "Eu era feliz naqueles momentos".

Senti uma nostalgia boa, uma sensação de agredecimento por ter vivido tudo aquilo. Percebi que havia uma verdade ingênua em tudo e, exatamente nisso, que residia a felicidade, na capacidade de poder viver um amor sem se preocupar ou racionalizar o futuro. Apenas vivíamos a experIência. 

Diferente das outras vezes em que pude visitar esses lugares onde a solidão e o abandono rondava o presente, dessa vez a reconstrução de cada lugar, cada momento, cada toque e sorriso, era acompanhada de uma nostalgia boa. 

Todas as verdades construídas depois da partida foram ilusões construídas e vividas naqueles momentos, então, nem por isso foram verdadeiras. Como bem nos coloca Nietzsche, só existem ilusões e interpretações construídas. Eu vivi e construí as minhas ilusões, agora, não me servem.

A verdade é que ontem voltei a alguns lugares e sorri. Isso basta. Sei que não devo mais voltar, não será mais possível. Resta a esperança de construir novos lugares onde possa sorri e construir minhas ilusões. Afinal, "o passado é uma roupa que já não nos serve mais".

(trecho do livro "A vida é ruim: memórias de amores e da noite")


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