A FANTÁSTICA FÁBRICA DA EDUCAÇÃO - PARTE I

Estudantes deverão apresentar carteirinha com QR Code para ter acesso à merenda

Em 2005, o cineasta estadunidense Tim Burton lança a regravação do filme A Fantástica Fábrica de Chocolate, não demoraria muito para se tornar um sucesso de público e, hoje, um clássico do cineasta. O filme que tem como personagem central a figura de Willy Wonka (Johnny Depp), o excêntrico dono da maior fábrica de doces do planeta, que decide realizar um concurso mundial para escolher um herdeiro para seu império.

Curiosamente, A Fantástica Fábrica de Chocolate abre diversos precedentes para análises sociológicas, sobretudo a (não tão) sútil ilustração do sistema de exploração capitalista através de suas contradições. Não obstante, o filme de Tim Burtom é um dos seus melhores filmes de terror. Ao usar chocolate como um doce que agrade e satisfaz a todos, a fantástica fábrica esconde mistérios de um mundo cinistro e cheio de segredos, que de mágico não tem nada. Exemplo disso está na figura dos Umpa-Lumpas, que é a própria representação da exploração da mão de obra de trabalhadores pouco qualificados e relegados à miséria.


A Secretaria de Educação de São Paulo é uma perfeita alegoria para o filme de Tm Burton


Na escola pública do estado de São Pulo, a alegoria da Fantástica Fábrica pode ser utilizada para entender um pouco da maquinaria publicitária utilizada pelo ex-governador João Dória (nosso Willy Wonka) e um mundo do faz-de-conta que se tornou a Secretaria da Educação.

Como entender a complexidade de uma rede com mais de 3.5 milhões de estudantes, mais de 200 mil professores e uma das pastas que mais recebem recursos é algo que nem aqueles que estão há tempos na educação consegue entender e explicar, vou aqui utilizar este espaço para ir por partes. A começar pela mais recente novidade: a utilização do recurso do QR Code para que os estudantes tenha acesso à merenda escolar nos 20 minutos de intervalo.

É incrível como no Brasil e, nas três décadas de governo PSDB, o ataque à educação tem como elemento central culpabilizar as vítimas do processo. No caso, professores(as) e estudantes. Recentemente a Secretaria da Educação de São Paulo lançou um sistema onde para ter acesso à merenda, durante o intervalo, o estudante deverá apresentar uma carteirinha com QR Code para que uma funcionária da cozinha controle a quantidade de merenda que cada aluno consome.

Em um intervalo de 20 minutos, cerca de 300 alunos e duas funcionárias da cozinha terão que fazer um verdadeiro milagre e cumprir uma meta que desafia a lei do espaço-tempo. Isso porque em todas escolas da rede estadual a quantidade de funcionários é insuficientes e os que trabalham, acabam realizando as atividades de 3 a 4 pessoas. Outro ponto revoltante, o governo direciona os ataques aos estudantes e funcionários, esquecendo que a fonte maior dos gastos dele mesmo.

AMIGOS DA (ONÇA) ESCOLA

Na gestão atual, só os "amigos" da escola é que têm benefícios

Muitos dos recursos da educação são direcionados para empresas amigas da escolas, fornecedores de todos os tipos que sabem bem onde está o mapa do tesouro e abocanham a maior parte desses recursos. Afinal, se o problema é o estudante que está comendo muito, o que dizer dos valores cobrados por um lápis fornecido ao estado? E as editoras e gráficas, que encontram o paraíso em contratos de fornecimento de livros e apostilas?

Uma consulta rápida constataria que tudo o que é fornecido para o estado costuma custar de 3 a 4 vezes mais, mesmo com as quantidades exorbitantes das notas fiscais. Algo que vai na contramão da lei do mercado onde, pela lógica, se um consumidor compra mais, teria direito a um desconto considerável.

O revoltante disso tudo é perceber que ficará nas costas das escolas a hercúlea tarefa de fornecer merenda para todos os estudantes, num tempo que já é insuficiente e, agora, ainda tendo que ficar refém desses recursos que surgem com a única função de humilhar cada vez mais o estudante brasileiro. Muitos têm na merenda da escola a principal refeição do dia, sobretudo nesse momento de crise e retrocesso. Outro fator complicador são os poucos funcionários disponíveis, que terão sair de suas funções aumentando ainda mais a defasagem nas escolas.

Quem pensou e idealizou tudo isso, com certeza não conhece a realidade das escolas pública e, pior, demonstra total desprezo com a realidade, vendendo um projeto que só irá beneficiar as empresas de tecnologias e dos aplicativos fornecidos para os estados, enquanto isso, continuamos nesse fantástico mundo caótico da educação em SP.

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