COMPLEXO DE CHARLIE BROWN

Charlie Brown e seu pessimismo

Assisti ao filme do Snoopy no cinema com meus filhos (Peanuts, o filme), um programa que, por si só, valeria todas as selfies e registros para as redes sociais. Ir ao cinema com os filhos, descontando a grana que se desembolsa para isso, é sempre algo muito prazeroso.

Mas, no caso desse desenho em especial, tinha um sabor de nostalgia.

Sim, sou apaixonado por esse desenho e por tudo o que ele significou na minha infância e pré-adolescência.

Primeiro, porque remete a uma época onde os desenhos não tinham essa sequência louca dos desenhos atuais. Havia uma ordem, um tempo, um roteiro bem definido. Vejo minha filha assistindo alguns desenhos e me pergunto se aquilo não foi feito sob o efeito de drogas pesadas, tamanha a loucura e a vertigem de cores, sons imagens, além de personagens totalmente fora do padrão (não que seja uma reclamação, é apenas uma observação). 

Em segundo, porque a criação de Charles Schulz é de uma sensibilidade e profundeza sem tamanho, que atinge todas as idades e que serve inclusive para suscitar reflexões. Peanuts escapa do moralismo conservador, mas, ao mesmo tempo nos faz refletir sobre questões importantes como a amizade, a solidão, a vida, o respeito, o amor, o companheirismo, a felicidade, entre outros temas.

Peanuts em uma tirinha. Simples e profunda.

Mas, o que mais me encanta nesse trabalho é o personagem Charlie Brown.

Como filho único, muito quieto, tímido e pouco sociável, aprendi desde de cedo a observar muito, ler muito e, na solidão dos meus dias, pensar sobre questões da vida.

Como todo garoto tímido, minha auto estima não era das melhores e, na difícil vida escolar, sempre me vi distante e com poucas habilidades sociais, pois não tinha muitos amigos, não era o descolado da turma, muito menos atraia as meninas e sempre me sentia como um sujeito pouco hábil na frente das pessoas (o que me causava muito constrangimento).

Charlie Brown a difícil tarefa de conquistar a garotinha ruiva

A "garotinha ruiva" sempre foi uma constante. Me apaixonava quase toda a semana, por garotas que nunca saberiam da minha existência. E, tal como o personagem de Schulz, sempre imaginava situações onde, finalmente, chegaria até ela demonstrando todo meu sentimento.

Os poucos amigos que tinha, os entretinha com meu pessimismo adolescente, sobre a vida, a existência, o meus amores perdidos etc. 

Ainda hoje me vejo meio Charlie Brown. Perseguindo a "garotinha ruiva", destilando meu pessimismo (agora tenho um blog pra isso!), com poucas habilidades sociais, me sentido pouco descolado e sem atrativos ao qual eu possa me orgulhar.

Ao assistir o desenho com os meus filhos e vê-los rindo, com os olhos vidrados e curtindo o momento, foi como se tivesse passado um pouco da minha infância para eles, da mesma forma em que eu estava revivendo-a, numa casa alugada de dois cômodos, sozinho, numa televisão de imagem preto e branca, esperando minha "garotinha ruiva". 

Tudo bem, confesso que minha auto estima agora é maior, sei dos meus talentos e me orgulho por ter pessoas que os reconhece. Não sou mais tão antissocial como antes, pois consigo atuar como necessário. A garotinha ruiva? Ainda estou esperando, mas sem muitas fantasias.

Comentários

  1. Me identifiquei com esse conteúdo. Muitas pessoas se sentiram - e se sentem - como o Charlie Brown. Sempre me solidarizei com o personagem. Parabéns por ter trazido isso pra cá.

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    2. Muito obrigado por acompanhar o blog e colaborar nos comentários!!!

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  2. Muito bom. Charlie r turma povoaram minha infância e adolescência.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Ahhh Snoopy é tudo de bom e sempre criei identificação com Charlie Brown

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