O OLHAR SOCIOLÓGICO A PARTIR DAS OBRAS DE ESCHER

DE ALUNO MEDIANO A UM GRANDE ARTISTA


Maurits Cornelis Escher (1898-1972, um artista que desafia o nosso olhar, abusa das formas geométricas e ainda serve de inspiração para inúmeros outros artistas, aparecendo em filmes e vídeos de bandas. Sua obra é um convite ao estranhamento da realidade, a observação detalhada e minuciosa, coisa que nossos olhos não estão acostumados.

Hand with reflecting sphere (1935)
Holandês, nascido em um família rica, foi um aluno mediano, sobretudo em matemática, mas era muito bom em desenho. Matriculou-se no curso de arquitetura, mas uma semana depois deixou o curso para dedicar-se às artes gráficas.

Em uma viagem a Espanha, encontrou o cenário perfeito para sua inspiração, onde teve contato com a arte geométrica muçulmana, com seus mosaicos e arabescos. Passou ainda pela Itália, Suíça, Bélgica, até retornar a Holanda onde passa o restante da vida. Essa influência cultural é significativa em seu trabalho.

Apesar de suas obras terem como bases formas geométricas muito bem calculadas, Escher sempre foi ruim nos estudos e na matemática. Mas isso não o impediu de ser um excelente artista.



ESCHER E O OLHAR SOCIOLÓGICO

Os trabalhos de Escher desafiam nosso olhar, primeiro pela perfeição das formas, onde em muitos trabalhos a impressão que temos é que foram feitas no computador. Depois, pela séries de elementos e detalhes que nos leva a ter um olhar muito bem apurado, a partir de uma observação sempre atenta. Tudo que é necessário para desenvolver o chamado olhar sociológico

Na obra abaixo Drawing hands (1948), ele cria uma imagem tridimensional, utilizando uma metalinguagem, onde o desenho se auto desenha. Isso, bem antes do surgimento dos computadores. 

Drawing hands (1948)

Parte de seu trabalho era em xilogravura, desenhos em relevou feito em blocos ou folhas de madeira. E litografia, processo que criava desenho partir de impressões feitas em pedra.

Abusando de paisagens sinistras, personagens estranhas, um universo sombrio, todo o trabalho do artista holandês nos instiga, nos provoca, ativando nosso olhar.

Waterfall (1961)

O trabalho acima (Waterfall, 1961) é um exemplo, onde ele brinca com o percurso da água, dando a impressão de que a mesma está subindo, mas ser repararmos bem, há um entrecruzamento, numa espécie de labirinto que nos provoca uma certa vertigem ao tentarmos acompanhar. 

Bond of union (1956)
Ele abusa dos sentidos e da percepção, nos faz refletir a partir de imagens que incomodam, ao mesmo tempo que atraem. O universo humano, a natureza, tudo se desconstrói para criar uma nova realidade. Escher nos tira do comum e faz pensar pensar. Não é por acaso que muita de suas obras aparecem em filmes, são referenciais em cenas clássicas e até mesmo faz participação em vídeos de bandas de rock, como no caso do clipe da música Otherside, do Red Hot Chilli Peppers.


UM ARTISTA INFLUENTE

Algumas de sua obras fazem ponta em filmes conhecidos, como em Donnie Darko (2000), onde a obra Eye (1946) aparece no quarto do personagem principal.

Donnie Darko (200)
Porém, no filme Uma noite no museu: o segredo da tumba (2015), os personagens do filme são transportados diretamente a obra Relatividade (1953), um de seus trabalhos mais conhecidos, que dentro do olhar sociológico nos mostra que a realidade é relativa, que pode ser vista a partir de várias perspectivas e sempre de um modo diferente.



Relativity (1953)


As famosas "escadas do Escher" aparecem também no filme A origem (2010), dirigido por Christopher Nolan, que tem como enredo a trama de ladrões de sonho que tentam plantar ideia na mentes das pessoas enquanto elas dormem. No filme do Harry Potter, há outra nítida influência das escadas que dão acesso aos quartos dos alunos de Hogwarts.
E, por último, os traços e as marcas do pintor holandês aparecem no vídeo da música Otherside, da banda Red Hot Chilli Peppers.




Para Peter Berger, é parte do trabalho do sociólogo ter essa curiosidade, esse espanto com a realidade, essa curiosidade diante da porta fechada, onde, do outro lado se escuta vozes. Ao mesmo tempo, a realidade nos apresenta muitos níveis de significados, que podem ser interpretados a partir de vários pontos de vistas. Algo, que o trabalho de Escher no estimula a todo momento. 

Da mesma forma, pegando o conceito de Wright Mills, Escher apresenta um olhar sociológico ao brincar com as formas, quando explora as paisagens ao máximo e nos deixa atentos a pequenas cenas do cotidiano que a partir de suas mãos assume uma complexidade.

Explore um pouco mais de sua obra a partir do link: http://www.mcescher.com/ e uma boa viagem!!!

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