A VIDA NO BRASIL SEMPRE FOI UM DETALHE

Milhões pegam o transporte público me plena a pandemia. 
Tal como na fila das câmaras de gás, no campos dec concetração
Por que eles não se revoltam?

No dia 02 de março de 2021, batemos o recorde de mortes por covid em um único dia, foram  1.726 vidas que perderam a batalham para o vírus. No momento em que escrevo, somamos o total de 257.562 óbitos, numa realidade cotidiana de uma morte a cada minuto por covid

Em meio a tudo isso, comércios e empresas quase que em sua normalidade, escolas, igrejas e demais serviços funcionando a pleno vapor. Aos fins de semana, as aglomerações nas festas, casas noturnas e em todos ambientes, gente feliz e alegre. A aglomeração também é promovida pelo poder público, afinal, os transportes, terminais e estaçõe de trem e metrô seguem em sua normalidade. 

Estamos num "salve-se quem puder" e quem tiver condições. 

Porém, é importante perceber que os números apresentados acima não chegam a ser um problema como um todo. Umas das explicações pela aparente apatia e o apoio à necropolítica instítuida por Bolsonaro, que tem entre a populações uma quantidade absurda de apoiadores, reside num aspecto psicossocial que está relacionado à formação do nosso povo. 

Estruturalmente a nossa história é marcada por sangue e lama, a nossa incapacidade de perceber a importância subjetiva da vida é quase nula, pois nossa origem ocorre já num processo marcado pelo estupro, pelo abuso e violência sexual. Através das práticas violentas, nascemos nós, os brasileiros. 

Não termina por aí. Nossa história é marcada pela eliminação das vidas que não valiam ser vividas. O genocídio das populações indígenas, que não ocorreu apenas no período colonial, mas seguiu durante toda a história (só no regime militar foram mais de 8 mil índigenas mortos). As vidas dos negros escravizados, arrancados de seu continente, fez no nosso território e da política colonial uma máquina de moer gente (cerca de 10 milhões arrancados do Continetne Africano, subjugados a exploração extrema).   

A história do Brasil nunca deveria ser contatada com um sorriso no rosto, pois a alcunha de povo pacífico esconde as diversas revoltas, onde o saldo de mortes sempre ultrapassou os limites da compreensão humana. Nos diversos governos, a morte sempre veio no atacado. Sem falar nos episódios sombrios, muitos deles desconhecidos da própria população e nunca de fato trabalho nos livros de história e nas salas de aula, como no manicômio em Barbacena, no episodio conhecido como o holocauto brasileiro, onde 60 mil pessoas foram mortas. 

Nos acostumamos às mortes, onde a vida do outro nunca teve de fato valor e na relação dialética desse quadro sombrio, nunca nos valorizamos enquanto humanos com direito à vida. Não espanta, diante disso, que o ataque aos Direitos Humanos tem entre a população quase que uma unanimidade. 

Nesas lógica, nossa vida sempre foi um detalhe, pois na introjeção da ideologia dominante, a preocupação sempre foi em defesa dos interesses daqueles que nos exploram. Defendemos com unhas e dentes a propriedade alheia, como se fosse nossa. O direito do meu patrão de comprar mais um carro importado, de garantir à sua família mais uma viagem internacional e o direito de seus filhos crescerem, na reprodução da riqueza e do poder. 

Fomos historicamente alienados da nossa própria condição humana em nome do direito alheio de nos explorar e, em nome desse direito, nos tornamos apáticos diante da própria vida. 

Não é de espantar o surgimento e fortalecimento de grupos antivacina, negacionistas e, pior, pessoas que declaradamente apoiam um genocída. Nossa cordialidade é sempre com o outro distante, nossa mansidão é sempre com quem nos explora. O sinhô, o dotô, o chefe, o patrão, o homem de negócios, o investidor. Sustentamos uma elite que, no imaginário social, sonhamos um dia pertencer. Por isso, atacamos o próximo, como o cão que defende a propriedade do dono, mas dorme no quintal ao relento.

Não entendemos o valor da vida enquanto elemento fundamental e subjetivo ao qual todo e qualquer poder deve se curvar. Vida essa que deve ser a finalidade de todas as políticas e todos os políticos, vida essa que o mercado não pode atingir em nome de seus interesses. 

Mas, como políticas públicas de defesa à vida surgirão no seio de um povo que está acostumado a morrer?

O grande desafio dessa pandemia, ao meu ver, tem sido o de reverter o sentimento entranhando em nós de que a vida é só um detalhe e nada mais. 


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